São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

Próximo Texto | Índice

RAÍZES

Arquitetos e decoradores dão dicas para quem recebeu e quer expor objetos e móveis que pertenceram a seus ancestrais

Herança decorativa preserva a memória e desafia o bom gosto

Fernando Moraes/ Folha Imagem
Kadoge Kadri Caramelo ao lado do narguilé recebido de sua mãe, que é libanesa


FREE-LANCE PARA A FOLHA

O narguilé herdado da mãe libanesa fica em lugar de destaque na sala da casa. E o que é narguilé? Kadige Kadri Caramelo, 39, adora responder aos visitantes não-iniciados na cultura árabe: "É uma peça especial para fumar. Ganhei da minha mãe quando casei".
Além do narguilé dourado que fica na sala principal, ela comprou um outro, azul, para um segundo ambiente. Compõe ainda sua decoração um masbaha, espécie de terço árabe, também herdado.
Nos casos como o de Caramelo, a máxima de que decoração é personalidade vale mais. "Antes de ser uma tendência, é um modo de manter a identidade e a tradição de um povo longe do seu país de origem", diz o arquiteto Eduardo Cabral, que já decorou ambientes com esse tipo de referência.
Assim, o que teria apenas a função de decorar a casa vira um lembrete da ascendência de quem vive ali e um bom pretexto para iniciar um bate-papo.
Mas como inserir esses objetos sem brigar com o resto da decoração? Se a idéia for contratar um arquiteto ou um decorador, tanto melhor. O profissional deve ter experiência e habilidade na composição de ambientes nesses moldes, além de entender um pouco sobre a cultura de origem da peça.

Tentação
Segundo os arquitetos, um dos erros mais comuns é, na ânsia de valorizar o artigo, esquecer-se de manter um equilíbrio com os demais elementos da decoração.
Apesar de defender que a decoração com peças originárias de outras culturas requer soluções exclusivas, o decorador Fernando Piva, 31, dá uma dica universal: levar em conta a proporção do artigo e a do ambiente.
"Não adianta ter uma cômoda linda herdada dos avós se ela não cabe na sala ou toma muito espaço." Além da proporção, é importante hierarquizar as peças.
Para Eduardo Cabral, o mais difícil é não ceder à tentação de encher a casa com elementos e mais elementos -ainda mais se forem de uma cultura em moda. Ele defende que, sem critério, não é adequado adquirir mais peças em lojas especializadas ou antiquários para ter sucesso na decoração com referências culturais.
"O mais importante é a autenticidade e a história da peça. Comprar novas peças pode anular esses valores e indicar um caminho de composição cenográfica, que soa falso e inconsistente. Nada como o contraponto para a valorização de uma peça antiga ou étnica", explica. (FLÁVIA MARREIRO)

Saiba mais: no site www.prefeitura.sp.gov.br/mil-povos, há uma listagem de todas as populações imigrantes na cidade, com contatos de associações culturais e bilaterais.


Próximo Texto: Quem não herda tem de correr atrás
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.