São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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Resistência do "dry wall" ao barulho é uma das principais dúvidas, mas lã de vidro promete solução; reforma custa, em média, R$ 27 o m2

Barreira do som?

ISABELLE SOMMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Deixa passar muito barulho ou não? Essa é uma das principais dúvidas sobre o "dry wall" (placas de gesso acartonado fixadas em estruturas metálicas, usadas como divisória interna e como parede entre apartamentos vizinhos) desde que foi implantado no Brasil, há cerca de dez anos.
Pesquisas diferentes mostram que o barulho pode ser minimizado com forração acústica. As paredes de "dry wall" têm uma vantagem teórica sobre as de alvenaria, explica João Gualberto de Azevedo Baring, pesquisador do Laboratório de Acústica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo): elas são ocas, o que dificulta a passagem de barulho.
"Quando o som atravessa um material sólido, ele encontra continuidade. Quando há um espaço, ele sofre uma inter-reflexão, como se estivesse num labirinto."

Economia
O problema é que os apartamentos usam a forma mais econômica de "dry wall", que custa em média R$ 45 o metro quadrado, conta com estruturas (chamadas de perfis ou montantes) simples e não tem isolamento com lã de vidro. Com manta isolante de som, o valor sobe para R$ 53. Usando a configuração mais sofisticada, chamada de dupla, em que a manta acústica faz uma espécie de ziguezague entre as estruturas metálicas e as placas, o preço vai para R$ 63.
Sem o isolamento interno, as estruturas metálicas ficam em contato com as duas placas de gesso que formam a parede. Isso cria uma "ponte acústica", que leva o ruído de um lado ao outro.

Pesquisas
Três pesquisas avaliaram a eficiência do isolamento com mantas de lã mineral (vidro ou rocha).
A consultora e engenheira civil Maria Angelica Covelo Silva, do Núcleo de Gestão e Inovação do Centro de Tecnologia de Edificações, fez dois levantamentos com moradores de Porto Alegre, neste ano, e de São Paulo, em 2002, a pedido de construtoras. Ela mediu a satisfação dos usuários com as divisórias.
Em Porto Alegre, a comparação foi feita entre três prédios com alvenaria e outros três edifícios com gesso. De acordo com ela, o nível de insatisfação com os ruídos é próximo nos dois: 30% no prédio de alvenaria, 39% no de "dry wall". No estudo de São Paulo, num edifício com "dry wall" e lã de vidro, o índice de insatisfeitos foi zero. No de alvenaria, de 69%.
Em uma outra experiência, feita em 2000 no IPT, Baring comparou uma parede de alvenaria de 12,5 cm de espessura com outra de placas de gesso com 8 cm e preenchida com lã de vidro.
O "dry wall" mostrou um desempenho mais eficiente em ruídos entre 250 e 1.600 Hz (hertz). A freqüência máxima registrada comumente em um apartamento é de 1.000 Hz, segundo ele.
O revestimento pode mesmo ajudar a melhorar o desempenho das placas, avalia Emílio Antônio Braga, diretor da empresa RBC Acústica, especializada no desenvolvimento de projetos acústicos.
"Só o "dry wall" não serve", afirma . É necessário fazer uma composição com mantas de lã, acrescenta. "Dá um efeito semelhante ao de uma parede convencional."

Conserto
Quem já mora num apartamento com vazamento de som por falta de forro acústico tem a opção de fazer uma reforma completa.
Daniel Crepaldi, técnico de produto da fabricante Jorsil, diz que as placas de gesso podem ser removidas sem risco porque não fazem parte da estrutura de sustentação. Cada placa de gesso (1,20 m por 2,40 m) sai por R$ 28. Um rolo de 15 m2 de lã de vidro custa R$ 138. A mão-de-obra sai R$ 8 por m2.
As construtoras são obrigadas a informar nas plantas oficiais se o "dry wall" tem proteção acústica. O jeito de o morador descobrir por conta própria é pedir o projeto do prédio. Especialistas em "dry wall" conseguem descobrir se existe a manta apenas batendo na parede, afirma Crepaldi.


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