São Paulo, sexta, 1 de janeiro de 1999

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Prisão ocorreu no dia da eleição presidencial de 89

do Banco de Dados

Na véspera da primeira eleição presidencial após o regime militar, em 89, a notícia sobre o sequestro do empresário Abílio Diniz teve características de fato político.
Informações extra-oficiais da Polícia Civil paulista davam conta de que os envolvidos no crime tinham ligação com o PT.
Era uma bomba, horas antes do segundo turno que o petista Luiz Inácio Lula da Silva disputava com Fernando Collor (PRN).
No Brasil da inflação (o último mês do governo José Sarney registrou o índice mensal recorde de 84% de aumento de preços), um partido de esquerda jogaria suas chances reais de chegar ao poder em uma aventura criminosa contra um representante dos supermercados?
Até hoje os sequestradores se desculpam junto ao PT pela inconveniência de fazer o sequestro naquele momento e envolver o partido numa ação que ele ignorava.
A polícia foi acusada de vestir e fotografar os presos com camisetas do partido, mas a investigação acabou arquivada dois anos depois, por falta de provas.
No dia 17 de dezembro de 89, após seis dias de sequestro e 36 horas de cerco à casa de classe média que servia de cativeiro, no Jabaquara, os dez sequestradores libertaram Diniz e foram presos -quase no mesmo momento em que as urnas eram fechadas.

Conexão Manágua
As ligações dos presos com movimentos da esquerda latino-americana ficaram provadas quando, em maio de 93, um bunker explodiu acidentalmente em Manágua, Nicarágua.
O local era alugado pela FPL (Frente Popular de Libertação), de El Salvador.
Na época, a Folha mostrou que ali havia um arsenal que incluía mísseis terra-ar, fuzis AK e um dossiê com a rotina de empresários em vários países, entre eles Abílio Diniz.
No local também foram encontrados documentos dos canadenses David Spencer e Christine Lamont.
O Departamento de Estado norte-americano investigou o dossiê e constatou a existência de uma rede mundial de sequestros, com ramificações em 12 países do mundo, cujas ações tinham finalidade política. O sequestro de Diniz teria sido uma dessas ações.

Controvérsia
Sempre foi questão controversa se os dez presos usariam de fato o dinheiro do resgate -foram pedidos US$ 30 milhões, cerca de R$ 36 milhões hoje - para financiar ações revolucionárias.
Até ser preso, o grupo não havia soltado nenhum manifesto sobre suas intenções supostamente políticas ou as citado no contato com a família.
A resposta mais recente a essa dúvida veio do Tribunal de Justiça paulista, que em dezembro considerou que o crime teve motivação política.
O que levou os desembargadores a essa conclusão foi uma declaração feita em 96 -sete anos após o sequestro- pelo MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária) chileno, assumindo a responsabilidade pelo crime.

Ação atrapalhada
A prisão do grupo foi resultado da execução desastrada de um crime bem planejado.
No carro usado em 11 de dezembro para sequestrar Diniz, uma Caravan disfarçada de uma ambulância, foi encontrado o cartão de uma oficina mecânica onde um dos sequestradores encomendou um serviço no veículo.
Na oficina, ele havia deixado um número de telefone de um flat. A polícia localizou o local e o prendeu.
O restante dos envolvidos foi localizado por meio de informações encontradas nos documentos que o sequestrador preso portava. O cativeiro foi cercado todo o grupo foi preso.



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