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SAÚDE
Paciente deve ficar alerta se os sintomas persistirem por mais de seis dias, diz presidente de conselho de medicina
Viroses exigem acompanhamento
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
"É uma virose." Quantos já não
receberam um diagnóstico pouco
específico como esse no hospital,
recomendação de cama e boa alimentação, e voltaram para casa
ainda mais confusos?
Em geral, os médicos dão essa
resposta quando não é possível
identificar rapidamente o vírus
causador do desconforto. O quadro é nebuloso, com sintomas comuns às infecções consideradas
inofensivas causadas por esses
microrganismos, como cansaço,
febre, falta de apetite.
De acordo com Artur Timerman, médico-assistente da clínica
de doenças infecciosas do Hospital Heliópolis, de São Paulo, mais
de cem tipos de vírus podem nos
infectar, mas é possível diagnosticar rapidamente apenas cerca de
20 deles, estima.
A maior parte das viroses benignas tem origem em duas "famílias" de vírus: a dos adenovírus
(que causam resfriados) e a dos
enterovírus (que causam também
problemas intestinais). O vírus influenza, causador da gripe, também é importante.
"Quando fazemos um diagnóstico de virose, damos um atestado
de nossa incompetência para
identificar rapidamente o vírus.
Também não gosto de dizer "virose". Parece que você está querendo
enganar", diz Timerman. "Mas
mais importante do que o diagnóstico é a conduta."
Até que saia o resultado do exame de sangue, a recomendação de
cama, líquidos, boa alimentação
serve para fortalecer as defesas do
corpo, explica o médico.
Mesmo em quadros simples, alguns pacientes, desidratados, sem
conseguir comer, podem precisar
de internação para evitar uma
piora ainda maior do estado geral.
De acordo com Clóvis Francisco
Constantino, presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), o
diagnóstico de virose é "totalmente ético, factível", diante das
dificuldades de se apontar facilmente qual o culpado pelo quadro infeccioso.
O presidente do Cremesp diz
que, apesar de todos os vírus serem passíveis de identificação,
muitas vezes a análise pode demorar mais do que a doença. A
saída é fazer um acompanhamento adequado enquanto os exames
não saem. "Não é dizer: "O senhor
tem virose. Até logo'", afirma.
Seis, sete dias sem melhora,
após o diagnóstico de virose, são
indicativos de que pode não ser
uma infecção tão inofensiva, explica o presidente do conselho.
Algumas doenças virais podem
evoluir para uma situação grave
em 24 horas, caso da meningite,
grave, explica Orlando Jorge da
Conceição, chefe do serviço de infecção hospitalar do Hospital São
Luiz, de São Paulo. "Às vezes começa com febre, mal-estar, mas
inicialmente não dá nem dor de
cabeça", afirma.
Para Constantino, os pacientes
devem ficar alertas para novos
sintomas ou sintomas que pioram, como alteração no ritmo respiratório, tosse progredindo. E
voltar a buscar ajuda profissional.
Crianças, idosos e pessoas debilitadas por outros problemas de
saúde, como o diabetes e doenças
cardíacas, devem receber atenção
especial. Neles as queixas são ainda mais difíceis de serem identificadas -não localizam as dores,
por exemplo. E, pela fragilidade
do sistema de defesa, mesmo uma
virose benigna pode evoluir mal.
De acordo com Timerman, um
quadro de virose pode piorar não
só porque o vírus é mais perigoso
do que parecia.
A infecção por vírus pode debilitar o organismo e facilitar infecções bacterianas associadas.
Fumantes, que têm o sistema
imune abalado pelo tabaco, também têm mais chances de complicações como esta, explica o infectologista do Hospital Heliópolis.
Infelizmente há pouquíssimas
drogas para combater as infecções virais benignas -as que
existem são para as doenças virais
graves, como a Aids.
Diagnóstico abusivo
Para Vicente Amato Neto, infectologista e professor emérito da
Faculdade de Medicina da USP, o
diagnóstico de virose tem sido
abusivo no cotidiano dos hospitais. Ele afirma que o paciente tem
o direito, no mínimo, a um pouco
mais de diálogo.
"Mais ou menos que tipo, qual
setor foi mais acometido pelo vírus. São algumas das perguntas
que devem ser respondidas", diz
o professor Amato Neto.
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