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VIOLÊNCIA
Regiões foram as que mais registraram casos em 2005; em toda a cidade, houve aumento de 3% nas ocorrências
Santo Amaro e Sé lideram roubos em SP
GILMAR PENTEADO
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em situações opostas, Fernanda, 18, e os adolescentes T.,16, e B.,
17, passaram a tarde de ontem em
um distrito policial da zona sul de
São Paulo. Fora da região onde
moram, os três viveram no bairro
Santo Amaro episódios de violência que, segundo a polícia, retratam parte das estatísticas da capital paulista em 2005.
Os jovens são o que se costuma
chamar de população flutuante
-residem fora e apenas transitam durante o dia pela região.
Fernanda (ela pede para seu sobrenome não ser divulgado) foi
atrás de um banco para sacar dinheiro e acabou vítima de roubo,
às 11h de ontem. Meia hora depois, em outro crime não relacionado, os adolescentes T. e B. chegaram a Santo Amaro para roubar uma casa e acabaram presos,
segundo a polícia.
O 11º DP (Santo Amaro), que
abrange uma área com população
flutuante em torno de 1 milhão de
pessoas por dia, foi o distrito policial, entre os 93 da capital, que registrou o maior número de roubos em 2005. Foram 4.280 casos
-uma média de quase 12 ocorrências por dia.
No topo da lista também estão
dois distritos que apresentam características semelhantes: o 1º DP
(Sé), com 3.689 roubos, e o 3º DP
(Santa Ifigênia), com 3.363 casos,
ambos no centro de São Paulo
(veja quadro nesta página).
Os três distritos estão situados
em áreas com grande circulação
de pessoas, concentração de casas
comerciais e comércio informal.
Dos 93 DPs, 44 registraram aumento de casos de roubo na comparação entre 2001 e 2005 -em
toda a cidade, o crescimento ficou
em 3%. Esses distritos formaram
uma mancha sobre as regiões
centrais de São Paulo.
Segundo Túlio Kahn, coordenador da CAP (Coordenadoria de
Análise e Planejamento), da Secretaria da Segurança Pública, esse desenho é, em parte, explicado
por velhas fórmulas dos estudos
criminais: os delitos contra a vida
-principalmente os homicídios
dolosos- se concentram nas
áreas mais pobres e periféricas. Já
os crimes patrimoniais, ao contrário, são mais numerosos em
áreas ricas e centrais.
Em Santo Amaro, o largo 13 de
Maio -que reúne lojas, barracas
de camelôs e grande circulação de
ônibus e carros- é apontado pela polícia como o local mais visado pelos ladrões.
Foi ali que Fernanda também
foi assaltada, em março do ano
passado. Um homem apontou
uma arma e levou seu celular. Ontem, ela foi seguida por dois homens depois de deixar a agência
bancária. Foi assaltada por eles no
ônibus -ela iria para casa no Jardim São Luís, distrito vizinho.
Fernanda perdeu R$ 500. "Eles
me roubaram umas 20 festas",
disse ela, que trabalha com recreação infantil e recebe R$ 25 por
festa. "Em dois segundos, levaram o dinheiro que trabalhei dois
meses para conseguir."
Ela deixou o distrito às 17h de
ontem, depois de cinco horas para registrar a ocorrência. Os adolescentes foram encaminhados
para a Febem (Fundação Estadual
do Bem-Estar do Menor). Moradores de Capão Redondo, no extremo sul, sem emprego, eles portavam um revólver calibre 38.
Para Renato Lima, coordenador
do núcleo de pesquisas do IBCCrim (Instituto Brasileiro de
Ciências Criminais) e chefe de divisão de estudos socioeconômicos da Fundação Seade, as características das áreas dos três distritos policiais explicam o alto índice
de roubos, mas não devem servir
de desculpa para a ineficiência da
polícia. "Nessas áreas, o policiamento ostensivo não é suficiente.
A polícia precisa pensar melhor
suas estratégias para melhorar esses números", afirmou.
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