São Paulo, quarta-feira, 01 de fevereiro de 2006

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VIOLÊNCIA

Regiões foram as que mais registraram casos em 2005; em toda a cidade, houve aumento de 3% nas ocorrências

Santo Amaro e Sé lideram roubos em SP

GILMAR PENTEADO
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em situações opostas, Fernanda, 18, e os adolescentes T.,16, e B., 17, passaram a tarde de ontem em um distrito policial da zona sul de São Paulo. Fora da região onde moram, os três viveram no bairro Santo Amaro episódios de violência que, segundo a polícia, retratam parte das estatísticas da capital paulista em 2005.
Os jovens são o que se costuma chamar de população flutuante -residem fora e apenas transitam durante o dia pela região. Fernanda (ela pede para seu sobrenome não ser divulgado) foi atrás de um banco para sacar dinheiro e acabou vítima de roubo, às 11h de ontem. Meia hora depois, em outro crime não relacionado, os adolescentes T. e B. chegaram a Santo Amaro para roubar uma casa e acabaram presos, segundo a polícia.
O 11º DP (Santo Amaro), que abrange uma área com população flutuante em torno de 1 milhão de pessoas por dia, foi o distrito policial, entre os 93 da capital, que registrou o maior número de roubos em 2005. Foram 4.280 casos -uma média de quase 12 ocorrências por dia.
No topo da lista também estão dois distritos que apresentam características semelhantes: o 1º DP (Sé), com 3.689 roubos, e o 3º DP (Santa Ifigênia), com 3.363 casos, ambos no centro de São Paulo (veja quadro nesta página).
Os três distritos estão situados em áreas com grande circulação de pessoas, concentração de casas comerciais e comércio informal.
Dos 93 DPs, 44 registraram aumento de casos de roubo na comparação entre 2001 e 2005 -em toda a cidade, o crescimento ficou em 3%. Esses distritos formaram uma mancha sobre as regiões centrais de São Paulo.
Segundo Túlio Kahn, coordenador da CAP (Coordenadoria de Análise e Planejamento), da Secretaria da Segurança Pública, esse desenho é, em parte, explicado por velhas fórmulas dos estudos criminais: os delitos contra a vida -principalmente os homicídios dolosos- se concentram nas áreas mais pobres e periféricas. Já os crimes patrimoniais, ao contrário, são mais numerosos em áreas ricas e centrais.
Em Santo Amaro, o largo 13 de Maio -que reúne lojas, barracas de camelôs e grande circulação de ônibus e carros- é apontado pela polícia como o local mais visado pelos ladrões.
Foi ali que Fernanda também foi assaltada, em março do ano passado. Um homem apontou uma arma e levou seu celular. Ontem, ela foi seguida por dois homens depois de deixar a agência bancária. Foi assaltada por eles no ônibus -ela iria para casa no Jardim São Luís, distrito vizinho.
Fernanda perdeu R$ 500. "Eles me roubaram umas 20 festas", disse ela, que trabalha com recreação infantil e recebe R$ 25 por festa. "Em dois segundos, levaram o dinheiro que trabalhei dois meses para conseguir."
Ela deixou o distrito às 17h de ontem, depois de cinco horas para registrar a ocorrência. Os adolescentes foram encaminhados para a Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor). Moradores de Capão Redondo, no extremo sul, sem emprego, eles portavam um revólver calibre 38.
Para Renato Lima, coordenador do núcleo de pesquisas do IBCCrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais) e chefe de divisão de estudos socioeconômicos da Fundação Seade, as características das áreas dos três distritos policiais explicam o alto índice de roubos, mas não devem servir de desculpa para a ineficiência da polícia. "Nessas áreas, o policiamento ostensivo não é suficiente. A polícia precisa pensar melhor suas estratégias para melhorar esses números", afirmou.


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