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A VIDA IMITA A ARTE
Aluno acusa escola
de discriminação
sexual
EDMILSON ZANETTI
da Agência Folha, em Araxá (MG)
Um estudante mineiro vive na
vida real um drama que lembra o
do protagonista do filme belga
"Minha Vida em Cor de Rosa",
em cartaz em São Paulo.
No filme, ganhador do Globo de
Ouro de melhor produção estrangeira de 1997, um garoto de 7 anos
acha que na verdade é uma menina e por isso acaba enfrentando
problemas na escola.
Na vida real, o estudante D.M.S.,
15 -homossexual, como ele se
define-, está impedido de estudar em uma escola estadual no
município de Araxá, no Triângulo
Mineiro.
A direção da tradicional escola
Vasco Santos, a mais antiga da cidade, se recusa a aceitar a matrícula do aluno para este ano sob alegação de indisciplina.
Opção sexual
Para o adolescente, que estuda
na escola há três anos, sua "expulsão" se deve exclusivamente à sua
"opção sexual".
Carismático, ele é uma espécie
de líder para os demais alunos.
Seus feitos são conhecidos pelos
estudantes de toda a escola.
"É um líder negativo", define a
diretora, Onilda Soares, 46.
Os atos apontados pela direção
como provas da indisciplina do
garoto na escola decorrem de sua
opção sexual.
Ele já frequentou aula usando
calcinha e sutiã, baixou a calça
diante dos colegas, desafiou professores, brigou com garotas e
chegou a gritar que estava "menstruado" em sala de aula.
Ficção
"Ele cria uma ficção e se coloca
como um personagem", diz a diretora.
Todas essas passagens estão registradas no livro de ocorrências
da escola e servem como prova para a diretora justificar sua decisão
de afastá-lo.
Olinda recebe o apoio de professores e funcionários. "Aqui ele
não estuda mais."
As anotações de professores e da
orientadora pedagógica da escola
nas ocorrências quase sempre fazem referência à opção sexual de
D.M.S.
Ao encaminhar o garoto para
avaliação psicológica, em junho
do ano passado, a diretora escreveu: "Ele destoa dos demais, querendo se mostrar para os moços,
fazendo questão de frisar que é
mulher, inclusive fazendo convites imorais para os colegas".
Transferência
Por causa de seu comportamento, D.M.S. foi transferido três vezes de turma no ano passado.
A diretora sugere que ele seja
transferido de escola. Ela diz ter
arrumado uma vaga em outra escola, mas o aluno se recusa a ficar
longe dos amigos.
"Isso aqui é minha vida. É o lugar onde passo os melhores momentos", afirma D.M.S.
Ele sustenta com convicção que
está sendo vítima de preconceito.
"Tem gente muito mais bagunceira que eu que continua na escola", afirma.
Quando soube da decisão da diretora de separar os alunos por sexo em salas de aula este ano,
D.M.S. reagiu, dizendo não haver
sala onde ele pudesse estudar.
Segundo a diretora, a divisão por
sexo é um teste para buscar melhor rendimento dos alunos.
A Secretaria da Educação do Estado de Minas Gerais diz não ter
informações sobre o caso de
D.M.S. e afirma que só poderá se
pronunciar se houver denúncia
formal.
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