São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

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SAÚDE
Levantamento da Secretaria da Saúde de SP mostra que casos subiram de 69 para 474 no período de cinco anos
Sífilis 'vertical' multiplica-se por sete

LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

A sífilis "vertical" -que é transmitida de mãe para filho- subiu quase sete vezes em cinco anos (entre 1991 e 1996).
Levantamento realizado pela Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo mostra que, no intervalo de cinco anos, o número de casos passou de 69 para 474. No ano passado, o número de casos registrados até agora foi de 198, mas o balanço ainda não foi fechado.
A sífilis "vertical" -contraída pela mulher sexualmente- pode levar à má-formação do bebê, causando principalmente problemas de visão.
O crescimento, segundo a secretaria, pode não representar uma elevação real do número de casos, mas apenas uma melhora no sistema de notificações da doença, porque, nos últimos anos, houve um esforço nesse sentido.
Mesmo assim, o programa de doenças sexualmente transmissíveis do Estado está preocupado com a elevação das notificações e está preparando uma campanha para elevar os exames de sífilis em grávidas e o tratamento das mulheres que têm a doença.
Um dado preocupante no estudo da secretaria mostra que, apesar de a maioria das grávidas com diagnóstico de sífilis ter sido submetida a tratamento (54,4%), 86% desses tratamentos foram inadequados e houve transmissão da doença para o bebê.
"Isso é um absurdo, porque o tratamento da doença é muito simples e barato, porque é à base de penicilina", afirma o coordenador do Programa DST/Aids, Artur Kalichman. Hoje, no pré-natal, duas doenças sexualmente transmissíveis têm de ser notificadas: Aids e sífilis.
Para deter a doença, a secretaria pretende incentivar a realização de testes de sífilis no pré-natal e melhorar o tratamento. "O problema é que, muitas vezes, há erros na hora de dar a dose certa de penicilina", afirma Luíza Matida, da Vigilância Epidemiológica do Estado e responsável pelo estudo.
Além de dar a dose correta de penicilina, o tratamento não é eficaz se feito apenas no último mês de gravidez. Mas, se feito corretamente, o tratamento é capaz de garantir 100% de chances de a doença não ser transmitida.
Como apenas a sífilis congênita tem notificação obrigatória, o percentual de elevação da transmissão de mãe para filho não pode ser comparado com o número total de casos de sífilis no Brasil. Esse número não é conhecido.
Há, no entanto, uma estimativa feita pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Segundo o órgão da ONU, foram registrados na América Latina e Caribe 1,3 milhão de novos casos de sífilis em 95. A ONU estima ainda -tomando por base a população- que o Brasil seria responsável por 40% desses casos. "Essa estimativa pode dar uma idéia de como ainda é baixa a notificação de casos de sífilis congênita. Mas não podemos calcular qual seria o número real de casos", afirma Luíza.



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