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SAÚDE
Para eles, risco da substância é comparável ao de outros analgésicos que continuarão a ser vendidos sem receita
Especialistas criticam controle da dipirona
DA REPORTAGEM LOCAL
Especialistas ouvidos pela Folha dizem não ser necessário tornar a dipirona um remédio controlado, medida que está em estudo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
"Há inúmeros estudos mostrando que ela é, entre os analgésicos disponíveis no mercado, a
droga menos perigosa", diz Anthony Wong, chefe do Centro de
Assistência Toxicológica do Instituto da Criança de São Paulo.
Segundo o especialista em toxicologia, estudos mostram que o
ácido acetilsalicílico (princípio
ativo da Aspirina), por exemplo,
pode provocar a síndrome de Reye (doença rara que afeta o cérebro e o fígado) se for usado no
combate a certas doenças febris
como a gripe e a catapora.
"A combinação do ácido com o
vírus influenza (causador da gripe) pode produzir uma situação
que leva à lesão das células do fígado e, consequentemente, a uma
hepatite fulminante e a um edema
cerebral", afirma.
Wong cita ainda um estudo
coordenado pela Organização
Mundial da Saúde sobre a suposta
associação entre uso de dipirona e
incidência de anemia aplástica
(doença em que a medula óssea fica incapaz de produzir glóbulos
vermelhos, brancos e plaqueta).
O estudo, feito com mais de 23
milhões de pessoas na Europa e
na Ásia, mostrou que a incidência
da doença não é maior entre os
usuários de dipirona em relação
ao restante da população.
Sobre um outro ponto polêmico, o risco de a dipirona causar
agranulocitose (doença que leva à
falta de glóbulos brancos), Wong
diz que a probabilidade não é
maior do que a de outros medicamentos, como o paracetamol,
causarem a doença. "Não posso
dizer que a dipirona é inócua. Mas
não vejo por que exigir receita para comprar o medicamento."
O especialista Sérgio Graff, chefe do Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo, também
entende que colocar tarja vermelha no medicamento não é necessário. "O médico não tem como
saber se esses efeitos colaterais
vão acontecer ou não em um determinado paciente. São efeitos
adversos inesperados. Ou seja,
não vai mudar em nada a proteção ao paciente o fato de a dipirona ter venda livre ou sob prescrição médica", afirma.
A favor dessa tese conta o fato
de o Brasil ser um dos países recordistas no uso da dipirona. "E
até onde eu sei não existe estudo
apontando o Brasil como o recordista em agranulocitose ou anemia aplástica." Segundo o Ministério da Saúde, estudos no Brasil
concluíram pela baixa incidência
de agranulocitose -de 0,44 a 0,82
casos por milhão de habitantes.
Na opinião do especialista Antonio Carlos Zanini, chefe do setor de informações sobre medicamentos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo,
o risco da dipirona é comparável
ao de outros analgésicos.
"Muito raramente, a dipirona
pode levar à morte por aplasia.
Muito raramente, o ácido acetilsalicílico pode levar à morte por
hemorragia, e o paracetamol, por
lesão hepática. Ou o ministério
encara as três drogas da mesma
forma ou essa medida vai ficar
com cara de medida política."
Antonio Barbosa da Silva, presidente do Conselho Regional de
Farmácia do DF, também defende um tratamento único a todos
os analgésicos. "A dipirona tem
de ser controlada, assim como o
ácido acetilsalicílico."
A dipirona é o analgésico mais
vendido no Brasil. No ano passado, só da marca Novalgina (a mais
comercializada), foram vendidas
15 milhões de unidades. Em 1998
e 1999, foram 17,6 milhões e 17,9
milhões, respectivamente.
(KÁTIA STRINGUETO)
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