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JUSTIÇA
Regina Velasco, 22, que negava ligação com crime, decide mudar versão após condenação de dois a 21 anos de prisão
Acusada deve apontar cinco pela morte de adestrador
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Regina Saran Velasco, 22, presa
com 17 skinheads (cabeças raspadas) logo após a morte de um homossexual na praça da República,
centro de São Paulo, vai admitir à
Justiça que estava com a gangue
de Carecas do ABC na hora do crime e delatar os cinco que lideraram a "sessão" de espancamento.
O adestrador de cães Edson Neris da Silva, 35, foi assassinado em
6 de fevereiro do ano passado
porque andava de mãos dadas
com Dario Pereira Netto.
"Eu não entendo muito de Justiça, mas não acho que mereço pena porque não gritei, não relei a
mão ", disse Regina, em entrevista
à Folha, no Cadeião de Pinheiros,
onde está jurada de morte.
A acusada, que até então negava
tudo, resolveu mudar sua versão
após se assustar com a condenação de dois skinheads, na semana
passada, a 21 anos de reclusão.
Dos 18 presos em um bar após a
morte de Neris da Silva, só um,
Jorge da Conceição Soler, admitia
envolvimento. Os demais negam
até conhecer uns aos outros.
Regina é casada com Henrique
Velasco, 23, com quem tem um filho de 2 anos. Dos acusados, só ele
foi reconhecido por mais de uma
testemunha. Leia abaixo trechos
da entrevista:
Folha - O que você fez no dia?
Regina Saran Velasco - A gente se
encontrou na estação de trem de
São Caetano. Eu estava com meu
marido na frente do grupo. Escutei um deles gritar. Olhei para trás
e vi o tumulto. Continuei andando. Meu marido olhou para ver o
que estava acontecendo. Perguntei e ele falou que era uma briga.
Folha - Dos 18 presos, quem participou do crime?
Regina - Na delegacia, havia 30
ou mais. Muitos foram liberados,
nem sei por quê. Dos 18, tem gente pagando por coisa que não fez.
Só cinco estão envolvidos.
Folha - Quem está pagando sem
ter feito nada?
Regina - Teve um que não fez,
mas gritou, incentivou, mandou.
Ele está preso. Ele falou: "Olha lá,
de mãos dadas, vocês não vão fazer nada?" Dos que continuam
presos (oito ganharam liberdade
condicional), teve um que bateu.
Outros três que espancaram estão
na rua. É uma injustiça.
Folha - Quais você conhecia?
Regina - Eu conhecia um (Vanderley Cardoso de Sá) que trabalhava com meu marido. Eu não
saía com eles. Nesse dia, ele chamou meu marido. Eu não queria
que ele fosse. Como ele insistiu, fiquei com aquele cisma de mulher,
de marido sair sozinho, e fui.
Folha - Você ainda é skinhead?
Regina - Não sou, nunca fui nem
pretendo ser. Meu marido (...)
não era, mas tinha amizade com
alguém que era. Ele se influenciou, acabou usando aquela roupa, fazendo tatuagem.
Folha - Por que você resolveu mudar sua versão agora?
Regina - Eu me calei com medo.
No dia do crime, um deles ameaçou todo mundo, dizendo que, se
alguém abrisse a boca, iria ver só.
Folha - Você vai dizer isso ao júri?
Regina - Não quero ser condenada a 21 anos só porque me calei. Se
eles quiserem saber, vou dizer os
nomes. Não acho justo a pessoa
ser homem suficiente de fazer e
depois deixar a gente pagar.
Folha - Você tem algum aborrecimento com seu marido?
Regina - Minha única mágoa é
que tentei cortar a amizade dele,
mas não consegui.
Folha - Você pretende continuar
casada com ele?
Regina - É muito difícil dizer isso. Se eu sair daqui, quero viver
em um lugar onde ninguém me
conheça. Eu tenho muita vergonha de tudo isso. Quero criar meu
filho em um lugar em que ele não
seja discriminado. Não quero
nem que ele saiba dessas coisas.
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