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São Paulo, sábado, 01 de março de 2003

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Governadora diz que direitos humanos são só para os "homens livres"; ao deixar Bangu 1, Beira-Mar ameaçou manter atentados

Rosinha defende linha dura para presos

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A governadora do Rio, Rosinha Matheus (PSB), disse ontem que "direitos humanos é para quem está aqui fora [da cadeia"", numa reação a ameaça, supostamente feita por traficantes, de que a onda de violência no Rio continuará se os direitos dos presos de Bangu 1 não forem respeitados.
"O que são direitos humanos? Direitos humanos são para quem está aqui fora [da cadeia", livre, que não cometeu nenhum ato ilícito. Esse direito tem de ser preservado para a população de bem", disse.
Foi uma resposta da governadora à faixa colocada numa passarela da avenida Brasil, na zona norte do Rio, que trazia a seguinte mensagem: "Direitos humanos para Bangu 1, senão a guerra da violência vai continuar".
Logo depois, Rosinha amenizou sua declaração inicial. Disse que "a eles [bandidos] cabem os direitos humanos enquanto respeito à pessoa. Mas eles praticaram atos ilícitos e têm de pagar por isso".
Desde o início da onda de violência, supostamente coordenada por presos do complexo de Bangu, os detentos perderam benefícios como visitas e banho de sol.

"Estamos arrochando"
Apesar de terem sido apreendidos 113 celulares e um microcomputador anteontem nas prisões de Bangu, Rosinha disse que a direção do presídio "tem dado a resposta". "Agora nós estamos arrochando mais, para garantir que eles [os detentos] estejam incomunicáveis", afirmou.
Questionada se o governo do Rio poderia fazer acordo com o tráfico para reduzir a violência, Rosinha respondeu: "Eu não falo com bandido. Bandido tem de estar preso. Eu não vou conversar nem negociar com bandido".
Foi uma referência a uma frase que, segundo jornais do Rio, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, teria dito ao ser transferido: "A governadora não precisava fazer isso [o transferir], era só conversar para negociar".
O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, esteve ontem no Rio e disse que o traficante não retornará a cidade. "Esse problema será equacionado. Temos solução para o Rio, mas temos de evidentemente ter reservas [verbas]. Vamos construir presídios federais", disse o assessor presidencial.
A mesmo tempo em que a governadora Rosinha endurecia seu discurso contra os criminosos, a Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio divulgava informação que revela a ousadia de Beira-Mar no enfrentamento com as autoridades públicas.
A secretaria confirmou que, ao deixar o Rio, na madrugada de quinta-feira, o traficante disse que quatro chefes do Comando Vermelho (maior organização criminosa ligada ao tráfico de drogas e armas no Rio) presos em Bangu 1 dariam sequência às ações violentas iniciadas na região metropolitana do Rio na segunda-feira.
Um funcionário do Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário) que acompanhou a saída de Beira-Mar da capital fluminense confirmou que o criminoso citou os nomes de Marco Antônio da Silva Tavares, o Marquinhos Niterói, Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, Isaías da Costa Rodrigues, o Isaías do Borel, e Marcus Vinícius da Silva, o Lambari.
Segundo esse funcionário, que pediu para não ser identificado, policiais militares do Bope (Batalhão de Operações Especiais) que escoltaram Beira-Mar até o avião da Aeronáutica que o levou a São Paulo ouviram dele a afirmação de que sua transferência não resolveria nada e que ele continuaria "tocando o terror no Rio".
As ameaças feitas pelo traficante confirmam, segundo a polícia, que a ordem para os atentados partiu de dentro do complexo penitenciário de Bangu.


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