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EDUCAÇÃO
Maura Véras permanecerá na secretaria-executiva da fundação, apesar de não possuir mais poder de decisão
Ação da igreja na PUC continuará, diz reitora
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar dos protestos na universidade, a Arquidiocese de São
Paulo manterá seu poder de decisão na PUC-SP. A avaliação é da
própria reitora da instituição,
Maura Bicudo Véras.
A ação da igreja na PUC se intensificou no último dia 10, quando o cardeal dom Cláudio Hummes, que ocupa o principal cargo
da universidade, alterou a formação da Fundação São Paulo (mantenedora da instituição), para que
a igreja ficasse com a função de
acabar com um déficit mensal de
R$ 4,3 milhões.
A ação foi vista por representantes de professores, funcionários e alunos como uma intervenção da igreja na instituição, o que
abalou sua autonomia. O Conselho Universitário (principal órgão
da PUC) repudiou as demissões.
A Arquidiocese nega que a medida tenha sido uma intervenção,
pois a reitora permanece na secretaria-executiva da fundação
-apesar de ela não possuir mais
o poder de decisão.
Considerando o corte feito pela
reitoria, a universidade perdeu
30% dos docentes e funcionários.
Em entrevista à Folha, Véras
afirma ser preciso um posicionamento claro das funções dela e da
igreja para que o plano de reestruturação possa ser posto em prática. Leia a seguir trechos da entrevista com Véras, 63, concedida na
noite da última sexta-feira.
Folha - Como fica a PUC após os
cortes?
Maura Bicudo Véras - Ainda estamos em meio ao processo [de
adequação]. A situação está controlada em muitos cursos, mas é
possível que haja carência em outros. O importante é que a PUC
continua sendo uma universidade muito importante no país.
Um indicador claro de qualidade é que uma boa universidade
normalmente tem um professor
para cada 30 alunos na graduação. Na PUC, tínhamos um para
cada 11 e, agora, é um para cada
14. Nossas salas não ultrapassam
50 alunos. A pós-graduação strictu sensu [mestrado e doutorado]
mantém um professor para cada
12 alunos. E, mesmo com toda essa crise, foi mantida a procura pelos nossos cursos. No último vestibular, houve 4.500 matrículas,
mesmo número do ano passado.
Folha - Haverá novos cortes?
Véras - Ainda precisamos fazer
alguns ajustes, não necessariamente no corpo docente.
O que precisamos é aumentar a
receita. Estudamos a criação de 15
cursos [na graduação]. Alguns já
estão em processo de aprovação.
Estão adiantados os cursos de tecnologia superior, de dois anos e
meio de duração. Também deveremos ter uma graduação em gerontologia. Para o próximo vestibular do meio do ano, em junho,
queremos ter mil novas vagas [no
ano passado, foram 200].
A segunda parte desse plano é a
Cogeae [coordenadoria responsável por cursos como especialização e MBAs], que hoje representa 12% da nossa receita. Atualmente, temos 12 mil alunos nesses
cursos. Queremos dobrar isso até
o final do ano. Também vamos
aumentar parcerias e convênios.
Folha - Mas como os novos cursos
podem gerar receita extra se há
uma demanda maior de docentes?
Véras - Em 2005, elaboramos um
procedimento para que houvesse
uma maximização da carga de
trabalho dentro da sala de aula. O
professor-mestre, por exemplo,
tinha 40% da jornada dentro da
sala de aula e 60% fora. Hoje ele
vai ficar 50% na sala. Quando se
cria um curso, pode-se trazer alunos com os mesmos docentes.
Folha - A secretaria-executiva da
Fundação São Paulo continua igual
[com dois padres e a reitora, em
que ela é voto vencido]?
Véras - Estou me empenhando
em manter o diálogo com a nossa
mantenedora. Terá de haver esse
diálogo. Para a nossa pauta de trabalho, precisa haver clareza dessa
convivência entre mantenedora e
mantida. Espero que seja assim: a
mantenedora nos mostra o montante de recursos que teremos e
nós o administramos.
Folha - Simbolicamente, o que representou esse processo?
Véras - Foi um impacto inusitado, nunca tivemos uma situação
parecida com essa. Agora, é reconstruir a normalidade institucional. Temos de dar um tempo
para que recuperemos a alegria da
PUC. Vai demorar um pouco,
mas acredito na superação.
Folha - A senhora pensou em renunciar?
Véras - No dia do Tuca, isso ficou explícito [em 22 de dezembro, ela convocou uma reunião
no teatro da PUC. Dom Cláudio
Hummes havia ameaçado fazer
uma intervenção na universidade,
pois os cortes até então representavam apenas 50% da meta]. Tomei a decisão [de ficar] naquele
dia. A comunidade não merecia
que eu desistisse. Se fui eleita, é
porque represento um projeto.
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