São Paulo, sábado, 01 de abril de 2006

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SOB NOVA DIREÇÃO

Ex-prefeito afirma que seu sucessor não é um "novato" e enfatiza a idéia de que nada mudará na prefeitura

Passado de Kassab não o desabona, diz Serra

CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao renunciar ontem à Prefeitura de São Paulo, José Serra (PSDB) defendeu o sucessor, Gilberto Kassab (PFL), dizendo que o pefelista não é um ""novato" na administração. Ressaltou que "alianças impróprias" do passado não o desabonam, em referência ao fato de o novo prefeito ter sido secretário do Planejamento de Celso Pitta.
""Isso [a ligação com Pitta] não pode ser entendido como uma decretação de falência múltipla dos órgãos para exercer cargos públicos para o resto da vida", afirmou Serra, em entrevista concedida no salão de convenções do Anhembi, empresa municipal escolhida pelo tucano como local de sua renúncia. ""Quanta gente não realizou boas contribuições para o Brasil e, em determinados momentos, assumiu alianças políticas que ao longo dos anos se revelaram impróprias?", completou.
Kassab foi acusado de enriquecimento desproporcional de seu patrimônio, que teria ocorrido no período em que foi auxiliar de Pitta. O Ministério Público Estadual acabou arquivando o processo.
No momento da renúncia, uma grande manifestação de professores ocorria em frente à sede do Executivo municipal, no centro da cidade. Serra havia passado a manhã e parte da tarde em casa e seguiu para o Anhembi, às 15h30, de helicóptero. Na pista do Campo de Marte, onde a aeronave pousou, ainda teve reunião com o presidente da Câmara Municipal, Roberto Tripoli (sem partido).
Só no início da noite, quando o protesto dos professores já tinha se encerrado, ele se dirigiu à prefeitura para uma última reunião.

"Novato"
No discurso de renúncia -Kassab não estava presente no evento-, o tucano reforçou a idéia de que não haverá mudanças na administração. ""Kassab não é um recém-chegado. Não desembarca na prefeitura como um novato. É um engenheiro que me acompanhou de perto nos últimos 15 meses", disse Serra. ""Muda o maestro, mas a orquestra é a mesma, a partitura é a mesma", afirmou o tucano, ressaltando que pretende fazer muita ""tabela" com o novo prefeito, caso se eleja governador.
Rodeado por secretários de postos-chave, como o das Finanças e de Planeamento, Serra disse ainda que não haverá mudanças na equipe. ""Muda o técnico, continua o time." Segundo acordo fechado entre tucano e pefelista, secretários aliados do ex-prefeito serão mantidos até as eleições.
Serra pretende manter um controle sobre a máquina administrativa durante a campanha. Ao público, diz que continuará opinando sobre questões da cidade, ""mas como qualquer cidadão".
Na entrevista após o discurso, Serra falou sobre seu maior acerto e seu maior erro durante seus 15 meses de mandato. O acerto, disse, foi não lotear os cargos das subprefeituras para obter apoio na Câmara. Afirmou, inclusive, que vereadores do centrão -grupo de 21 vereadores que se dizem independentes- chegaram a elogiá-lo por isso, apesar de deixarem claro que queriam os cargos.
Quanto ao seu maior erro, Serra afirmou que foi sua impaciência no início da gestão, em 2005.

"Serra mentiu"
A cidade amanheceu com dezenas de faixas que acusavam Serra de mentir por deixar o cargo antes do prazo mesmo tendo assinado um documento no qual garantia a permanência na prefeitura por quatro anos. Questionado sobre o assunto, resumiu: "É o PT. Nada mais previsível porque eles não têm mais coisa para dizer". Os petistas negam a autoria das faixas.
Ainda ontem, o vereador Paulo Fiorilo, presidente do Diretório Municipal do PT, disse que entrará com representação no Ministério Público Eleitoral questionando o fato de Serra ter realizado um ato partidário em um prédio ligado ao setor público, o Anhembi. Para o vereador petista, isso vai contra a legislação.


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