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URBANISMO
"Impacto social" foi, segundo a prefeitura, o que motivou a decisão de aumentar o tamanho e o custo das obras
Marta muda túneis para reduzir desgaste
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo decidiu aumentar o tamanho e, conseqüentemente, o custo dos dois
túneis sob a avenida Brigadeiro
Faria Lima (na zona oeste da cidade) para reduzir o "impacto social" -interdição de avenidas e
cobranças de moradores e da imprensa com a dilatação do prazo
de entrega- que as obras trariam
à administração de Marta Suplicy.
A petista é candidata à reeleição.
A informação consta de parecer
elaborado pelo advogado Adilson
Dallari, a pedido da prefeitura,
que foi apresentado para legitimar o aditamento dos contratos
dos túneis das avenidas Rebouças
e Cidade Jardim.
Conforme a Folha informou
ontem, a obra vai custar R$ 71,1
milhões a mais do que o previsto
pela prefeitura. Serão gastos R$
219,2 milhões -um aumento de
48% sobre o preço inicial.
Professor titular da Faculdade
de Direito da PUC-SP, Dallari diz
que as mudanças na obra não se
limitam aos "aspectos econômicos", mas "principalmente ao impacto social de cada alternativa".
Continua Dallari: "Especialmente durante o período das
obras, muitas atividades serão
afetadas, obrigando a adoção de
percursos alternativos para o
trânsito, acarretando incômodos
(poeira e barulho) inevitáveis,
despertando a atenção da imprensa e gerando reações perfeitamente compreensíveis por parte de segmentos sociais mais diretamente afetados".
A Folha procurou o advogado
por dois dias para comentar seu
parecer. Ele não respondeu aos telefonemas. Dallari recebeu da
prefeitura R$ 60 mil pelo parecer.
A administração Marta Suplicy
decidiu modificar o método construtivo dos túneis dias antes do
início da obra, em 4 de janeiro. Foi
nessa época, mais de três meses
depois de anunciados os vencedores da licitação, que os técnicos
chegaram à conclusão de que tubulações de água e fios e cabos telefônicos e de eletricidade dificultariam a escavação dos túneis.
Como não houve consenso para a
retirada dessas interferências, os
túneis receberiam desvios ou então teriam de ser mais profundos.
Houve um racha na prefeitura.
Um grupo defendia a continuidade do projeto original, que levaria
à interdição da avenida Brigadeiro Faria Lima, nos dois sentidos,
por até cinco meses, para que os
desvios fossem feitos. Outro, que
os túneis fossem mais profundos
e extensos, ficando abaixo das interferências. O preço aumentaria,
mas a medida evitaria a prorrogação das obras. O segundo grupo
ganhou e o cronograma atual
mantém para dezembro a previsão de inauguração dos túneis.
"A primeira opção deixaria a
obra sem um prazo definido de
entrega", diz Valdemir Garreta,
secretário de Projetos Especiais
da prefeitura. Segundo ele, a diferença de R$ 71,1 milhões será coberta pela Operação Urbana Faria
Lima. Com R$ 190 milhões em
caixa, a operação consiste na venda de certificados que permitem a
construção de prédios acima do
permitido pelo zoneamento.
Apesar de a prefeitura ter silenciado sobre as mudanças nos diversos e-mails enviados à imprensa nos últimos meses, Garreta nega que tenha havido uma tentativa de esconder a informação. "A
sociedade se informa pelo Diário
Oficial", defende.
O aditamento dos contratos foi
fechado no dia 1º de março. A prefeitura publicou as mudanças no
"Diário Oficial" no dia 20, mas
nada informou ao Legislativo ou à
imprensa. Questionado sobre o
assunto, Garreta tergiversou:
"Não era necessário informar a
Folha sobre as alterações".
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