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Prisão de R$ 9 mi tem paredes frágeis
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O governo do Estado do Rio
gastou R$ 9 milhões na transformação de um quartel da Polícia
Militar na casa de custódia em
que presos rebelados desde sábado têm aberto, com facilidade,
buracos nas paredes do prédio.
Rebelados desde sábado, os presos mantiveram pelo menos 20
reféns sob a mira de escopetas e
pistolas. Anteontem, o agente penitenciário Marco Antonio Borgatte, 43, um dos reféns, foi morto
pelos presos.
O projeto original da instalação
da Casa de Custódia de Benfica
(zona norte do Rio) no antigo
prédio do 22º Batalhão da PM, de
quatro andares, previa a instalação de chapas de aço nas paredes.
De acordo com o responsável
pelo projeto, César Campos,
coordenador do programa Delegacia Legal, as chapas só foram
colocadas nas celas.
Campos disse ontem à Folha
que o planejamento previa ainda
o confinamento dos presos nas
celas. Eles não poderiam circular
pelos corredores. Esse foi, segundo Campos, o motivo de não terem sido instaladas chapas de aço
nas paredes dos corredores.
Sem licitação
Como ocorreu com as outras
dez casas de custódia construídas
no Estado do Rio a partir de 1999,
quando assumiu o governo o hoje
secretário de Segurança Pública,
Anthony Garotinho, não houve licitação para a contratação da empresa responsável pela adaptação
do prédio do batalhão, de cerca de
40 anos, em casa de custódia.
Sob a alegação de que a obra era
emergencial, por causa da superlotação de quatro cadeias na região metropolitana -centro, Niterói (cidade a 15 km do Rio), Ricardo de Albuquerque e Pavuna
(bairros na zona norte)-, o Grupo Delegacia Legal contratou a
empreiteira Norberto Odebretch
sem a concorrência prevista na lei
8.666 (Lei de Licitações). A lei autoriza a dispensa de licitação em
situações tidas como urgentes.
A casa de custódia foi inaugurada em 7 de abril, com capacidade
para até 1.300 presos. Antes da rebelião, iniciada após uma tentativa frustrada de fuga em massa,
havia cerca de 900 presos. Segundo a Secretaria de Administração
Penitenciária do Estado, só 14
conseguiram fugir.
Campos defendeu a utilização
do prédio. "O Estado gastaria
quase R$ 20 milhões se tivesse que
construir um imóvel novo", disse.
Em entrevista à tarde, o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos,
disse que a casa de custódia estava
funcionando em "uma situação
emergencial" e que as obras de
adaptação continuavam.
A Folha tentou ouvir Garotinho
sobre o assunto. Segundo sua assessoria, ele não daria entrevistas.
A Norberto Odebretch informou que as paredes destruídas
pelos presos são de áreas em que
eles não deveriam circular. Por isso, não tinham chapas de aço. Para a empresa, a obra foi concluída.
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