São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

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Conviver com a fuligem da cana é rotina para os moradores de Ribeirão Preto

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Conviver com a fuligem da cana faz parte da rotina dos moradores de Ribeirão Preto, cidade pólo da produção sucroalcooleira de São Paulo.
O resíduo liberado na queima da cana, necessária para facilitar o corte manual da planta, forra os quintais das casas, principalmente na madrugada.
Para especialistas, o "carvãozinho" é um dos principais responsáveis pelo agravo de doenças respiratórias e pela piora na qualidade do ar nas cidades.
O aposentado Sidnei Nascimento de Mattos, 60, deixou há seis meses São Paulo para morar em Ribeirão. Acostumado à poluição na capital paulista, o aposentado ficou surpreso ao ver a quantidade de fuligem na varanda. "No primeiro dia, até me assustei, porque não sabia de onde vinha aquele pó", disse.
A lavagem diária dos quintais gera, por tabela, consumo excessivo de água na cidade. Em Ribeirão , a média diária de consumo por habitante é de 400 litros contra a média brasileira de 230 a 250 litros -os dados são do Daerp (Departamento de Água e Esgoto).
Darvin José Alves, superintendente do Daerp, diz que a maior parte do gasto de água se deve ao intenso calor, mas a queima de cana também colabora para o consumo maior.
O pó fino vindos das lavouras da cana também gera gastos na área da saúde. A Secretaria de Saúde de Ribeirão estima que cresce até 30% a procura por inalação de crianças e idosos com crises respiratórias.
O aumento é esperado no inverno, devido ar seco, mas o pó da queima também ajuda a agravar as doenças, segundo o secretário da Saúde de Ribeirão, Oswaldo Cruz Franco.
A dona-de-casa Mariana Cristina da Silva, 18, disse já ter se acostumado a lavar todos os dias o quintal por causa dos filhos Douglas, 2, e Bruno, quatro meses. "Se eu não tirar o pó ataca a bronquite deles", conta ela.
Queima A queima da cana envolve uma equipe de até sete pessoas e caminhões-pipa. Geralmente, a equipe é formada por tocheiros, motoristas, bombeiros industriais e o chefe da turma.
O primeiro passo é estudar a direção do vento para decidir o início do fogo. O tocheiro, usando um maçarico, coloca fogo nos pontos determinados pelo chefe. Os caminhões-pipa ficam circulando o tempo todo apagando pequenos focos de fogo fora da área delimitada.
Um erro no processo pode colocar em risco a vida da equipe. Em maio do ano passado, o motorista de um carro-pipa morreu quando trabalhava no controle de uma queimada induzida no município de Motuca, na região de Ribeirão.


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