|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Conviver com a fuligem da cana é rotina para os moradores de Ribeirão Preto
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
Conviver com a fuligem da
cana faz parte da rotina dos
moradores de Ribeirão Preto,
cidade pólo da produção sucroalcooleira de São Paulo.
O resíduo liberado na queima
da cana, necessária para facilitar o corte manual da planta,
forra os quintais das casas,
principalmente na madrugada.
Para especialistas, o "carvãozinho" é um dos principais responsáveis pelo agravo de doenças respiratórias e pela piora na
qualidade do ar nas cidades.
O aposentado Sidnei Nascimento de Mattos, 60, deixou há
seis meses São Paulo para morar em Ribeirão. Acostumado à
poluição na capital paulista, o
aposentado ficou surpreso ao
ver a quantidade de fuligem na
varanda. "No primeiro dia, até
me assustei, porque não sabia
de onde vinha aquele pó", disse.
A lavagem diária dos quintais
gera, por tabela, consumo excessivo de água na cidade. Em
Ribeirão , a média diária de
consumo por habitante é de
400 litros contra a média brasileira de 230 a 250 litros -os dados são do Daerp (Departamento de Água e Esgoto).
Darvin José Alves, superintendente do Daerp, diz que a
maior parte do gasto de água se
deve ao intenso calor, mas a
queima de cana também colabora para o consumo maior.
O pó fino vindos das lavouras
da cana também gera gastos na
área da saúde. A Secretaria de
Saúde de Ribeirão estima que
cresce até 30% a procura por
inalação de crianças e idosos
com crises respiratórias.
O aumento é esperado no inverno, devido ar seco, mas o pó
da queima também ajuda a
agravar as doenças, segundo o
secretário da Saúde de Ribeirão, Oswaldo Cruz Franco.
A dona-de-casa Mariana
Cristina da Silva, 18, disse já ter
se acostumado a lavar todos os
dias o quintal por causa dos filhos Douglas, 2, e Bruno, quatro
meses. "Se eu não tirar o pó ataca a bronquite deles", conta ela.
Queima
A queima da cana envolve uma
equipe de até sete pessoas e caminhões-pipa. Geralmente, a
equipe é formada por tocheiros, motoristas, bombeiros industriais e o chefe da turma.
O primeiro passo é estudar a
direção do vento para decidir o
início do fogo. O tocheiro, usando um maçarico, coloca fogo
nos pontos determinados pelo
chefe. Os caminhões-pipa ficam circulando o tempo todo
apagando pequenos focos de
fogo fora da área delimitada.
Um erro no processo pode
colocar em risco a vida da equipe. Em maio do ano passado, o
motorista de um carro-pipa
morreu quando trabalhava no
controle de uma queimada induzida no município de Motuca, na região de Ribeirão.
Texto Anterior: Relatora de CPI quer propor nova lei para queimada Próximo Texto: Equipe de jornal é torturada em favela no Rio Índice
|