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Perfil genético melhora combate ao câncer
Biomarcadores identificam caracteristicas específicas de tumor para usar medicamento de maior eficácia no tratamento
Precisão sobre tumor e tratamento com terapias-alvo auxiliam médicos a escolher quais pacientes podem ser beneficiados
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O tratamento do câncer está
se tornando cada dia mais individualizado, tendo como base o
perfil genético de cada tumor e
de cada paciente. A chave para
essa nova realidade está no desenvolvimento de biomarcadores -agentes que reconhecem
substâncias ou características
específicas do tumor e se ligam
a ele- já disponíveis no Brasil.
Esses testes, associados a
drogas chamadas de terapias-alvo -que permitem que apenas as células cancerígenas sejam alvo do remédio- estão
tornando os tratamentos mais
eficazes, e a expectativa dos
médicos é que sua utilização
também tenha impacto no custo social dessas novas terapias.
Na prática, em vez de usar
drogas oncológicas caras -que
chegam a custar R$ 30 mil
mensais- para todos os pacientes com um determinado
tipo de tumor, os médicos terão
ferramentas para escolher
quais pacientes vão se beneficiar com o tratamento e descartar o uso nos demais.
"Em vez de utilizar um remédio em cem pessoas para que só
dez delas se beneficiem, você
vai usar apenas nas dez em que
ele funciona", diz o médico Auro Del Giglio, coordenador do
programa de oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein.
"As terapias-alvo são caríssimas e a alternativa mais esperta é definir o perfil de quem deva recebê-las", diz Giglio.
Estudos que serão divulgados hoje em um congresso
mundial de câncer em Chicago
(EUA) vão mostrar que a presença da mutação de um gene
(K-ras) em um grupo de pacientes com câncer de colorretal provoca resistência ao uso
de uma dessas terapias-alvo, o
cetuximabe (Erbitux).
"Você não expõe metade dos
pacientes que receberia a medicação sem benefício. Você
tem uma economia financeira e
de efeitos colaterais em alguém
que tomaria o remédio sem
chances de benefícios", diz
Paulo Hoff, que dirige áreas de
oncologia do Hospital Sírio Libanês e do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Segundo ele, o K-ras como
biomarcador está sendo utilizado experimentalmente no
Brasil. Outros testes, para tumores de mama e do sistema
gastrointestinal, já são usados
como rotina em centros oncológicos de ponta do país.
Conhecer o perfil genético do
tumor é importante porque um
mesmo tipo de câncer pode se
comportar e reagir aos tratamentos de modo diferente.
Além disso, o câncer é mutável
e pode fazer o paciente deixar
de responder a uma terapia.
As terapias-alvo têm ação específica: algumas, por exemplo,
agem nas moléculas responsáveis pela divisão das células
cancerosas, impedindo que elas
se multipliquem de forma desordenada, e outras agem para
o tumor parar de crescer.
Custo
Grande parte dessas terapias-alvo não está disponível
no SUS e nem é coberta pelos
planos de saúde. O recurso cada
vez mais freqüente para a aquisição dessas drogas tem sido
ações judiciais, que comprometem o orçamento da saúde de
Estados e municípios.
O cirurgião oncologista Benedito Mauro Rossi, do Hospital AC Camargo, diz que em razão do custo e da alta especificidade desses tratamentos, a indicação deve ser restrita a casos
com comprovação do benefício. "Não podemos perder o foco no custo-benefício e nas evidências científicas publicadas."
Auro Del Giglio, do Einstein,
cita um exemplo de dilema sofrido no serviço público -ele
também atua no setor de oncologia da Faculdade de Medicina
do ABC.
"Eu, com R$ 100 mil, consigo
pagar a quimioterapia ambulatorial de todas as crianças que a
gente trata. Aí a gente tem um
teste [genético do tumor] que
custa R$ 5.000. Eu faço 20 testes e não dou quimioterapia para as crianças?", questiona.
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