São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

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HIDEKAZU MASUDA (1911-2008)

Porque a vida cabe em poucas palavras

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dente-de-leão ao vento, assim é o haicai japonês, poema em três versos e 17 sons que condensam a beleza da imagem, da estação ou mesmo da vida. E que, como toda arte, requer um mestre, ainda que emprestado de outro país. Após um século de imigração, o Brasil achou o seu.
Hidekazu Masuda pesquisava, traduzia e escrevia os poemas de poucas palavras. Sabia o peso da "missão" a ele confiada por Nempuku Sato, pioneiro do haicai no Brasil e que lhe introduzira à arte. Foi em 1936 que leu os primeiros poemas e passou a fazê-los, em japonês e português. Assim o homem de Kagawa, Japão, que chegou ao Brasil em 1929 e por anos trabalhou na lavoura do café e por outros na quitanda do pai em Pedregulho (SP), chegou a São Paulo como poeta.
Foi jornalista, dirigiu uma cooperativa agrícola em Cotia (SP) -mas preferia os versos, em seqüência de três, sem rima e com "kigo", termo que, em poucos sons, traduz a estação do ano; que dele mereceu um dicionário.
A mesma economia de palavras da poesia tinha na fala do dia-a-dia. Quem conversasse com o ancião de 1.60 m, cinco filhos e seis netos, não saberia que ele fundou o Grêmio Haicai Ipê; que ganhou o prêmio "Masaoka Shiki"; ou que uma livraria abre, no dia 5 próximo, um concurso de haicais com seu nome. Mas ele não estará lá. Morreu quarta, de infarto, aos 96.
"Apagou-se enquanto dormia", diz o filho, como o vento sacode o dente-de-leão, belo kigo da primavera, que então floresce no Japão.

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