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HIDEKAZU MASUDA (1911-2008)
Porque a vida cabe em poucas palavras
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Dente-de-leão ao vento,
assim é o haicai japonês, poema em três versos e 17 sons
que condensam a beleza da
imagem, da estação ou mesmo da vida. E que, como toda
arte, requer um mestre, ainda que emprestado de outro
país. Após um século de imigração, o Brasil achou o seu.
Hidekazu Masuda pesquisava, traduzia e escrevia os
poemas de poucas palavras.
Sabia o peso da "missão" a
ele confiada por Nempuku
Sato, pioneiro do haicai no
Brasil e que lhe introduzira à
arte. Foi em 1936 que leu os
primeiros poemas e passou a
fazê-los, em japonês e português. Assim o homem de Kagawa, Japão, que chegou ao
Brasil em 1929 e por anos
trabalhou na lavoura do café
e por outros na quitanda do
pai em Pedregulho (SP), chegou a São Paulo como poeta.
Foi jornalista, dirigiu uma
cooperativa agrícola em Cotia (SP) -mas preferia os
versos, em seqüência de três,
sem rima e com "kigo", termo que, em poucos sons, traduz a estação do ano; que dele mereceu um dicionário.
A mesma economia de palavras da poesia tinha na fala
do dia-a-dia. Quem conversasse com o ancião de 1.60 m,
cinco filhos e seis netos, não
saberia que ele fundou o Grêmio Haicai Ipê; que ganhou o
prêmio "Masaoka Shiki"; ou
que uma livraria abre, no dia
5 próximo, um concurso de
haicais com seu nome. Mas
ele não estará lá. Morreu
quarta, de infarto, aos 96.
"Apagou-se enquanto dormia", diz o filho, como o vento sacode o dente-de-leão,
belo kigo da primavera, que
então floresce no Japão.
obituario@folhasp.com.br
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