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Trem de luxo faz estréia em trilhos velhos no Paraná
Ferrovia centenária do interior do Estado recebe trem de passageiros após 20 anos; moradores festejam a passagem
Turistas estrangeiros pagam até R$ 11.484 por viagem de dez dias, que tem trechos de avião e de ônibus por falta de trilho adequado
JAMES CIMINO
ENVIADO ESPECIAL AO PARANÁ
O primeiro trem de luxo do
Brasil fez sua viagem inaugural
no último fim de semana levando cerca de 40 turistas europeus ao litoral e ao interior do
Paraná. Por onde passava, era
recebido por bandas, corais típicos, grupos folclóricos e autoridades. Trechos de ferrovias
centenárias, como a que liga
Ponta Grossa a Guarapuava, no
interior do Estado, não viam
um trem de passageiros havia
pelo menos 20 anos.
Crianças e adultos que moram às margens da ferrovia
saíam de suas casas com máquinas fotográficas e acenavam
aos estrangeiros desconhecidos, que retribuíam a gentileza.
Os dois passeios no trem,
chamado Great Brazil Express,
entre Curitiba e Morretes, no
litoral, e entre Ponta Grossa e
Cascavel, no extremo oeste, fazem parte de um pacote de turístico oferecido a estrangeiros,
que custa de US$ 4.990 (R$
8.782) a US$ 6.525 (R$ 11.484).
O ponto de partida é o Rio de
Janeiro. Depois, passa por Curitiba, atravessa o Paraná de
leste a oeste e termina em Foz
do Iguaçu, totalizando, no valor
mais alto, dez dias de viagens e
visitas a parques, hospedagens,
serviço de bordo do trem e passeios de barco no Rio.
Para se ter uma idéia, um
passeio de três horas no Orient
Express da Inglaterra, um dos
trens de luxo mais famosos do
mundo, custa US$ 1.020 (R$
1.795). O trem brasileiro, no entanto, não pode ser comparado
ao Orient Express em requinte.
São apenas dois carros automotrizes com 22 lugares cada,
bar, decoração luxuosa com
motivos da flora e fauna brasileiras e dois monitores de LCD
ligados a câmeras externas que
mostram a paisagem aos passageiros. Não há vagão restaurante, nem cabines para pernoite.
As estações, com poucas exceções, são improvisadas.
Além disso, a viagem sofre
com as deficiências da malha
ferroviária. Alguns trechos, entre Rio de Janeiro e Curitiba e
entre Foz do Iguaçu e Rio, portanto, são feitos de avião. Outros trechos, no interior do Paraná, são feitos de ônibus.
A belga Karen Vermaerke,
27, que viajava em um trem de
luxo pela primeira vez, disse
achar o passeio relaxante. "Na
Europa viajamos de trem todos
os dias. Mas essa é primeira vez
que viajo em um trem de luxo."
Apesar disso, a turista faz
ressalvas ao roteiro. "Temos
que distinguir a viagem de trem
da de ônibus, porque os trechos
rodoviários são exaustivos."
Sua colega Sandrine de
Crom, 30, foi mais crítica. "Toda cidade em que paramos tinha danças típicas da Europa
que não nos interessam, pois
temos isso lá em nosso continente. Queria ter andado mais
entre as pessoas e visto coisas
que elas fazem diariamente.
Queríamos ter visto capoeira."
Segundo Adonai Aires de Arruda, diretor geral do Great
Brazil Express no país, o objetivo era fazer todo o trajeto de
trem, mas as condições técnicas não permitiram.
"As bitolas dos trens são diferentes, e a circulação de passageiros depende do transporte
de carga. Entre Curitiba e Ponta Grossa, por exemplo, o trecho rodoviário tem 120 km, enquanto o ferroviário tem 270 km. A viagem levaria cerca de 11
horas, já que a ferrovia é centenária e exige uma velocidade
média de apenas 30 km/h.
Além do mais, é uma região que
concentra o transporte de toda
a safra de grãos do Paraná."
A situação das ferrovias brasileiras pode estar prestes a
mudar com os projetos de expansão incluídos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo federal.
Samuel Gomes, diretor-presidente da Ferroeste (Estrada
de Ferro Paraná Oeste), empresa que junto com a América Latina Logística dá concessão de
operação do trem de passageiros em suas linhas férreas,
apresentou durante a viagem
algumas obras de expansão das
ferrovias paranaenses.
Uma delas ligará a cidade de
Cascavel ao Mato Grosso do Sul
e outro a Foz do Iguaçu, com
probabilidade de expansão até
Assunção, capital do Paraguai.
O jornalista JAMES CIMINO viajou a convite da
Great Brazil Express
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