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Fumantes ligam o vício ao término das refeições
Segundo pesquisa, 95% disseram que comer os estimula a fumar um cigarro
Estudo feito com 500 fumantes surpreende; médicos esperavam que vício estaria mais associado ao consumo de café e bebida
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Acender um cigarro logo depois de terminar o almoço ou
do jantar é uma ação automática para a grande maioria dos fumantes, de acordo com um levantamento feito no ano passado por um ambulatório público
de São Paulo que trata dependentes de drogas.
De 500 pessoas atendidas em
2007 pelo Cratod (Centro de
Referência em Álcool, Tabaco e
Outras Drogas), que é ligado à
Secretaria de Estado da Saúde
de São Paulo e está localizado
no centro da capital, 95% dos
entrevistados disseram que o
cigarro está diretamente ligado
ao fim de cada refeição.
Os fumantes entrevistados
pelo Cratod associaram o cigarro com mais força à comida do
que à ansiedade (73%), ao café
(71%), à tristeza (68%), à alegria
(55%), a falar ao telefone (42%)
e a consumir mais bebidas alcoólicas (34%).
"Essa associação tão forte foi,
para nós, uma surpresa. Tínhamos a impressão de que o cigarro estava mais associado ao café
e à bebida", afirma a médica
psiquiatra e sanitarista Luizemir Lago, coordenadora do ambulatório estadual.
O próximo passo, de acordo
com ela, será estudar o que provoca essa relação tão próxima
entre comer e fumar. As razões,
de acordo com a médica, podem ser tanto emocionais
quanto orgânicas.
Dopamina
A médica cardiologista Jaqueline Issa, responsável pelo
programa de tratamento do tabagismo do InCor (Instituto do
Coração), de São Paulo, explica
que o consumo de nicotina provoca a liberação de dopamina,
um neurotransmissor ligado ao
prazer e ao bem-estar.
"A pessoa pode ter acabado
de fazer uma refeição maravilhosa, mas o prazer do cigarro é
maior que o prazer da comida.
O cigarro complementa e acentua o prazer. Não importa se a
pessoa vai a um restaurante fino ou come um pão com mortadela, o prazer só vem depois,
com o cigarro", diz ela.
O mesmo raciocínio das baforadas após o almoço, segundo
a médica do InCor, pode ser
aplicado ao cigarro que se acende durante um encontro com
os amigos no bar e após uma relação sexual.
"As pessoas são escravas do
prazer de fumar e muitas vezes
não têm noção disso", afirma.
Segundo a médica, a nicotina
é a terceira droga que mais libera dopamina, depois da cocaína
e das anfetaminas.
Tratamento
Identificar os sentimentos
ou as ações que a pessoa liga ao
cigarro é importante porque facilita o tratamento contra o vício. Quem liga o cigarro à comida, por exemplo, pode passar a
escovar os dentes, beber água
gelada ou mascar uma bala
imediatamente após as refeições. Quem fuma enquanto fala
ao telefone pode passar a segurar, em vez do cigarro, um lápis
ou uma caneta.
O tabagismo é reconhecido
mundialmente como doença e
dá origem a outras seis dezenas
de males, como câncer de pulmão e de boca, bronquite, osteoporose e até impotência sexual. A doença pode levar à
morte.
Segundo uma pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde
realizada em 2001 e 2002,
25,5% dos homens e 19,8% das
mulheres da cidade de São Paulo são fumantes. Os índices vêm
caindo ao longo dos anos.
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