São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

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Fumantes ligam o vício ao término das refeições

Segundo pesquisa, 95% disseram que comer os estimula a fumar um cigarro

Estudo feito com 500 fumantes surpreende; médicos esperavam que vício estaria mais associado ao consumo de café e bebida

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Acender um cigarro logo depois de terminar o almoço ou do jantar é uma ação automática para a grande maioria dos fumantes, de acordo com um levantamento feito no ano passado por um ambulatório público de São Paulo que trata dependentes de drogas.
De 500 pessoas atendidas em 2007 pelo Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas), que é ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e está localizado no centro da capital, 95% dos entrevistados disseram que o cigarro está diretamente ligado ao fim de cada refeição.
Os fumantes entrevistados pelo Cratod associaram o cigarro com mais força à comida do que à ansiedade (73%), ao café (71%), à tristeza (68%), à alegria (55%), a falar ao telefone (42%) e a consumir mais bebidas alcoólicas (34%).
"Essa associação tão forte foi, para nós, uma surpresa. Tínhamos a impressão de que o cigarro estava mais associado ao café e à bebida", afirma a médica psiquiatra e sanitarista Luizemir Lago, coordenadora do ambulatório estadual.
O próximo passo, de acordo com ela, será estudar o que provoca essa relação tão próxima entre comer e fumar. As razões, de acordo com a médica, podem ser tanto emocionais quanto orgânicas.

Dopamina
A médica cardiologista Jaqueline Issa, responsável pelo programa de tratamento do tabagismo do InCor (Instituto do Coração), de São Paulo, explica que o consumo de nicotina provoca a liberação de dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer e ao bem-estar.
"A pessoa pode ter acabado de fazer uma refeição maravilhosa, mas o prazer do cigarro é maior que o prazer da comida. O cigarro complementa e acentua o prazer. Não importa se a pessoa vai a um restaurante fino ou come um pão com mortadela, o prazer só vem depois, com o cigarro", diz ela.
O mesmo raciocínio das baforadas após o almoço, segundo a médica do InCor, pode ser aplicado ao cigarro que se acende durante um encontro com os amigos no bar e após uma relação sexual.
"As pessoas são escravas do prazer de fumar e muitas vezes não têm noção disso", afirma.
Segundo a médica, a nicotina é a terceira droga que mais libera dopamina, depois da cocaína e das anfetaminas.

Tratamento
Identificar os sentimentos ou as ações que a pessoa liga ao cigarro é importante porque facilita o tratamento contra o vício. Quem liga o cigarro à comida, por exemplo, pode passar a escovar os dentes, beber água gelada ou mascar uma bala imediatamente após as refeições. Quem fuma enquanto fala ao telefone pode passar a segurar, em vez do cigarro, um lápis ou uma caneta.
O tabagismo é reconhecido mundialmente como doença e dá origem a outras seis dezenas de males, como câncer de pulmão e de boca, bronquite, osteoporose e até impotência sexual. A doença pode levar à morte.
Segundo uma pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde realizada em 2001 e 2002, 25,5% dos homens e 19,8% das mulheres da cidade de São Paulo são fumantes. Os índices vêm caindo ao longo dos anos.


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