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Angolanos no Rio lutam
por preservação cultural e
contra estigma do tráfico
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Após anos acostumados
com uma das mais sangrentas guerras civis da história, a
comunidade angolana do
Rio enfrenta hoje outras batalhas. A primeira é não deixar que a distância da terra
natal os afaste de sua cultura.
A segunda, mais ingrata, é
acabar com o estigma de ligações com o tráfico.
Para isso, eles estão atacando em duas frentes. A
primeira é a criação da Casa
de Angola, já em construção
no complexo da Maré, onde
está a maior comunidade angolana no Rio de Janeiro.
A segunda vem acontecendo nos primeiros sábados de
cada mês na Fundição Progresso (na Lapa) com a festa
Kizomba, com apresentações de música, dança, pintura e outras atividades.
De todos os desafios, o que
incomoda mais os angolanos
do Rio são as suspeitas de ligação com o tráfico na Maré.
Já houve notícias, nunca
confirmadas, de que ex-guerrilheiros na guerra civil
angolana estariam treinando traficantes cariocas.
Nizio Bernardo, 33, conta
que essas suspeitas foram a
gota d'água que levou um
grupo da Maré -onde, segundo eles, há ao menos 700
famílias- a criar uma associação de apoio aos angolanos. Uma das preocupações
foi desfazer essa imagem.
"Saímos de Angola para
fugir de uma guerra. Vamos
fugir de uma para entrar em
outra? Isso não faz sentido.
Temos um relacionamento
muito bom com os brasileiros. Vários de nós somos casados com brasileiras. Nossos filhos são brasileiros.
Mas essas notícias estavam
colocando em risco nossa integridade física", diz Manuel
Felipe, 37, um dos coordenadores da casa.
"Não sou guerrilheiro. Sou
ativista urbano. Sou rapper",
diz Bernardo Simão, 32,
também conhecido como
MC Badaró. Já Manoel Felipe diz que nem em Luanda
[capital angolana] vivenciou
um nível tão alto de violência
como o que há hoje na Maré.
Ele diz que o motivo que
levou inicialmente muitos a
morarem na Maré foi a proximidade do aeroporto internacional, que facilita o comércio informal com Angola.
A maioria, como ele, veio
de Luanda, onde os efeitos
da guerra civil que durou 27
anos foram menos sentidos
do que no interior do país.
Da Casa de Angola, na Maré, o grupo pretende fazer
um espaço de exposição de
sua cultura natal, mas também de ajuda aos angolanos
no Rio na obtenção de documentos.
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