São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Angolanos no Rio lutam por preservação cultural e contra estigma do tráfico

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Após anos acostumados com uma das mais sangrentas guerras civis da história, a comunidade angolana do Rio enfrenta hoje outras batalhas. A primeira é não deixar que a distância da terra natal os afaste de sua cultura. A segunda, mais ingrata, é acabar com o estigma de ligações com o tráfico.
Para isso, eles estão atacando em duas frentes. A primeira é a criação da Casa de Angola, já em construção no complexo da Maré, onde está a maior comunidade angolana no Rio de Janeiro.
A segunda vem acontecendo nos primeiros sábados de cada mês na Fundição Progresso (na Lapa) com a festa Kizomba, com apresentações de música, dança, pintura e outras atividades.
De todos os desafios, o que incomoda mais os angolanos do Rio são as suspeitas de ligação com o tráfico na Maré. Já houve notícias, nunca confirmadas, de que ex-guerrilheiros na guerra civil angolana estariam treinando traficantes cariocas.
Nizio Bernardo, 33, conta que essas suspeitas foram a gota d'água que levou um grupo da Maré -onde, segundo eles, há ao menos 700 famílias- a criar uma associação de apoio aos angolanos. Uma das preocupações foi desfazer essa imagem.
"Saímos de Angola para fugir de uma guerra. Vamos fugir de uma para entrar em outra? Isso não faz sentido. Temos um relacionamento muito bom com os brasileiros. Vários de nós somos casados com brasileiras. Nossos filhos são brasileiros. Mas essas notícias estavam colocando em risco nossa integridade física", diz Manuel Felipe, 37, um dos coordenadores da casa.
"Não sou guerrilheiro. Sou ativista urbano. Sou rapper", diz Bernardo Simão, 32, também conhecido como MC Badaró. Já Manoel Felipe diz que nem em Luanda [capital angolana] vivenciou um nível tão alto de violência como o que há hoje na Maré.
Ele diz que o motivo que levou inicialmente muitos a morarem na Maré foi a proximidade do aeroporto internacional, que facilita o comércio informal com Angola.
A maioria, como ele, veio de Luanda, onde os efeitos da guerra civil que durou 27 anos foram menos sentidos do que no interior do país.
Da Casa de Angola, na Maré, o grupo pretende fazer um espaço de exposição de sua cultura natal, mas também de ajuda aos angolanos no Rio na obtenção de documentos.


Texto Anterior: Fumantes ligam o vício ao término das refeições
Próximo Texto: Saúde/Diabetes: Dieta e exercícios podem adiar diabetes por 14 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.