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PLANO DIRETOR
Prefeitura de SP deve perder autonomia para definir taxa cobrada de quem construir acima do limite estabelecido
Câmara muda projeto e tira poder de Marta
SÉRGIO DURAN
MELISSA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O projeto do novo Plano Diretor
de São Paulo, que deve ser votado
nesta semana na Câmara Municipal, terá modificações fundamentais em relação à proposta original enviada pelo Executivo há
quase dois meses. Com as mudanças, a prefeita Marta Suplicy
(PT) passa a ter menos poder de
decisão sobre as estratégias de
reorganização urbana da cidade.
Outras novidades que também
devem constar do substitutivo ao
texto original, que está sendo elaborado pela Comissão de Política
Urbana da Câmara, são a proposta de fazer uma revisão do plano
em 2006 e a mudança do prazo final para a concretização das metas do projeto de 2010 para 2012.
Segundo o vereador Nabil Bonduki (PT), relator da nova proposta, a idéia é não deixar que
questões ligadas a uso e ocupação
do solo, como o valor da outorga
onerosa -taxa que será cobrada
para construir acima do limite
permitido pela legislação municipal- sejam definidas pela prefeitura sem passar por votação na
Câmara Municipal.
Pelo projeto original, a prefeitura teria autonomia para definir,
ano a ano, o valor que as construtoras pagariam por cada metro
quadrado construído acima do limite máximo -o equivalente a
uma vez a área do terreno.
Na nova proposta, os critérios
para definir esses índices já estarão estabelecidos no Plano Diretor e poderão ser detalhados na
nova Lei de Zoneamento, que será
aprovada depois.
Estímulo
A outorga onerosa é um dos instrumentos presentes no projeto
para reordenar a ocupação urbana da cidade. Hoje, as construtoras podem erguer prédios sem pagar nada, dependendo do zoneamento da região onde está o terreno. O plano estabelece um único
potencial construtivo para todos
os terrenos da cidade. Para construir mais, será preciso pagar.
"Se quisermos, por razões urbanísticas, estimular usos em determinadas regiões, faremos um menor custo para a outorga. Se quisermos inibir o uso, vamos aumentar o custo", disse Bonduki.
Segundo o vereador, a Câmara
não vai abrir mão de legislar sobre
uso e ocupação do solo. "Vamos
tirar tudo o que signifique transferir competências do Legislativo
para o Executivo", disse.
Críticas
A concentração de decisões nas
mãos da prefeitura, como prevê o
projeto original, é um dos pontos
mais criticados por especialistas.
"É um poder muito grande para
ficar na mão do Executivo", disse
a urbanista Rosa Puchala, do Instituto de Arquitetos do Brasil
(IAB). "Poder que vai para a mão
de burocratas, sem nenhum artifício para dificultar a corrupção",
afirmou o urbanista Luiz Carlos
Costa, professor da USP.
Para Costa, o projeto da prefeitura procura orientar as construtoras sem ter um projeto de circulação para a cidade. "Quem sabe a
capacidade da estrutura viária do
bairro que terá estoque alto de
metros quadrados?"
Segundo Bonduki, o substitutivo ao projeto original deve compatibilizar o zoneamento e o
transporte coletivo, estabelecer
diretrizes ligadas a questões sociais e integrar políticas setoriais.
A idéia de que o plano será viabilizado em duas etapas também
deve ser enfatizada na nova proposta, afirma Bonduki.
"Daqui a dois anos aprovaremos a legislação complementar e,
em quatro anos, uma revisão, para que possa haver uma correção,
caso não haja o que se espera."
As mudanças no projeto, segundo o vereador, são fruto de
contribuições recebidas nos debates realizados pela Câmara e
das críticas feitas por especialistas
e por representantes do mercado
imobiliário.
Bonduki afirmou que algumas
emendas propostas por setores
como o Secovi (sindicato das
imobiliárias e construtoras) ainda
estão sendo analisadas e muitas
devem ser incorporadas ao substitutivo. O cálculo do potencial
construtivo também pode sofrer
modificações.
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