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PLANO DIRETOR
Para o vereador petista Nabil Bonduki, relator da proposta, intenções da prefeitura de SP são mal compreendidas
Projeto anda "no fio da navalha", diz relator
DA REPORTAGEM LOCAL
A pressa da prefeitura em aprovar o Plano Diretor será mantida
na Câmara Municipal. O projeto,
que precisa de pelo menos 33 votos dos 55 vereadores para ser
aprovado, deve ser votado em primeira e em segunda votação ainda nesta semana.
O vereador Nabil Bonduki (PT),
relator do substitutivo ao plano
feito pela Comissão de Política
Urbana, afirma que, no texto, será
possível "caminhar no fio da navalha" das críticas, feitas por diversos setores contra o plano.
"Um plano para São Paulo sempre estará suscetível a isso", considera o parlamentar, que também
é urbanista e professor da USP.
Na Câmara, foram realizados 24
debates e três audiências públicas
em três semanas. Leia trechos da
entrevista com o vereador:
Folha - Qual o prazo para concluir
o substitutivo?
Nabil Bonduki - Tudo depende
do acordo. O pedido de urgência
impõe o próximo dia 3 para que o
projeto vá para a pauta, mas o
substitutivo pode ser apresentado
antes da segunda votação, que
não deve ser antes de sexta-feira.
Folha - Houve nova manifestação
do Secovi (sindicato das imobiliárias e construtoras) durante os debates na Câmara?
Bonduki - Eles entregaram oficialmente uma proposta de 60
emendas, que será analisada. O
Secovi levanta algumas questões,
independentemente dos conflitos, que serão trabalhadas para
evitar interpretações ambíguas. É
importante garantir que o processo imobiliário não sofra interrupção ou descontinuidade. Segundo
o Sindicato dos Corretores de
Imóveis, o mercado estaria parado desde abril. A entidade continua afirmando que quer coeficientes adicionais em relação a
atual Lei de Zoneamento. Eles
concordam com a outorga onerosa, só que acima do limite atual.
Mas houve um consenso entre
entidades de que a cidade não
aguenta aumento de potencial
sem mudanças de regras.
Folha - Há a crítica generalizada
de urbanistas de que o texto não é
claro quanto aos seus objetivos
-inverter o êxodo rumo à periferia, qualificá-la urbanisticamente o
proteger os mananciais. O substitutivo responde a isso?
Bonduki - Eu acho que é uma
questão de texto. Esses objetivos
estão colocados, mas talvez precisem ser explicitados.
Folha - A Frente Popular para o
Plano Diretor defende que as novas
Zeis (Zonas Especiais de Interesse
Social) não reforçam a idéia de trazer população para o centro.
Bonduki - Eu acho que o plano
contempla a reivindicação deles,
sim. Na verdade, o importante é o
Plano Diretor esclarecer quais os
critérios para delimitar as Zeis e o
que se pretende com elas. Para
que os planos diretores regionais
possam identificá-las depois.
Agora, se o plano fosse adiado até
se poder mapear todas as áreas
propícias à habitação social, não
iria valer nem essas que estão mapeadas nem as novas. O plano
abre um sistema e um processo de
planejamento.
Folha - O professor Luiz Carlos
Costa, da USP, defende que o plano
seja votado em dois tempos. Para
ele, tudo o que foi previsto no plano atual não teve base em medições de demanda, tanto de tráfego
quanto de habitação popular. O
que o sr. acha disso?
Bonduki - Isso que ele está propondo está relacionado à lei de
uso e ocupação do solo, à nova Lei
de Zoneamento, que, de fato, será
um segundo momento, junto
com os planos regionais. Aí será
possível definir com maior precisão o quê e quanto se poderá
construir em cada lugar. O Plano
Diretor estabelece as grandes
áreas da cidade, as grandes concepções, usos e instrumentos.
Folha - Sobre zoneamento, há a
crítica de que o plano mantém as
zonas industriais em bairros que,
hoje, estão perdendo indústrias.
Bonduki - Acho que poderia ser
adaptado um pouco melhor o nome dessa zona. A idéia não é que
ela seja industrial, mas sim de caráter misto onde as indústrias sejam permitidas. Mas as zonas estão em áreas de operações urbanas. Na verdade, a lei específica de
operação urbana vai definir como
essas áreas serão organizadas.
Folha - O plano prevê centralidades e intervenções urbanas em zonas consideradas pelo próprio documento como de preservação ambiental. Não é contraditório?
Bonduki - Em relação a isso, talvez tenha de ficar um pouco mais
explícito o tipo de centralidade e
de zona de preservação. A zona de
preservação está definida como
uma zona que, embora de preservação, vai permitir uma ocupação
habitacional, que está consolidada. São quase um milhão de pessoas nas bacias do Guarapiranga e
na Billings. Não é possível remover essa gente toda. Deve-se evitar
novos moradores. Essas áreas têm
de ser qualificadas. Os centros
propostos não são para atrair novos empreendimentos, mas para
garantir qualidade de vida.
Folha - Essa qualificação urbana
em mananciais não deveria ser definida no plano, obrigando o uso de
pisos drenantes, de manter mais
áreas permeáveis nos terrenos?
Bonduki - O plano tem isso. Não
está explicitado, e isso poderia ser
feito. Nessa região, irá vigorar a legislação estadual.
Folha - Por que o plano despertou
tantas críticas?
Bonduki - Um plano para São
Paulo sempre será suscetível a críticas porque é uma cidade muito
grande, muito complexa. Um dos
problemas desse plano é um pouco a sua dificuldade de apreensão.
Não é uma proposta cuja apreensão se faz no primeiro olhar. Na
verdade, muitas críticas são de
pontos que estão atendidos.
Folha - De todos os grupos que
pressionam a Câmara Municipal
durante o trâmite do Plano Diretor,
com qual será mais complicado lidar? O Secovi?
Bonduki - Olha, o Secovi é um
dos interlocutores que mais fez
críticas. Em um processo de aprovação, talvez seja um setor que se
manifeste contrariamente. Também não sei. O Secovi precisa de
regras novas e claras. Essa imagem predadora dada ao mercado
também não interessa à entidade.
Folha - Será possível agradar a todos os setores no substitutivo?
Bonduki - Será possível caminhar no fio da navalha, encontrar
a fórmula em que a cidade ganha
e todos possam ganhar. A pior
coisa é a situação de pendência.
(SÉRGIO DURAN)
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