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PESQUISA
Concorrência desleal de indústria pesqueira e desgaste provocado pela atividade seriam os principais motivos
Estresse chega até a pescadores artesanais
ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA
Os reflexos da crescente concorrência das companhias de pesca
industrial e o desgaste provocado
pela atividade estão tornando os
pescadores artesanais da Amazônia mais propensos a problemas
psiquiátricos e ao consumo de
drogas como álcool e tabaco.
É o que aponta uma pesquisa
recentemente realizada pela Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo) comparando os pescadores com pessoas que possuem
outros tipos de atividade.
Durante seis meses, o psiquiatra
Benedito Bezerra avaliou a saúde
mental de 221 homens que sobrevivem da pesca e de outros 230
trabalhadores da cidade de Vigia,
a 77 km de Belém (PA).
Os resultados estão em sua tese
de doutorado, "A Saúde Mental
no Nordeste da Amazônia: Estudo de Pescadores Artesanais".
Pelo levantamento, 46,6% dos
pescadores apresentaram uso
abusivo ou dependência de bebidas alcoólicas e cigarro, contra
um índice bem inferior -de apenas 16,5%- dos demais membros da comunidade.
Esquizofrenia
Os distúrbios psiquiátricos
-como estresse pós-traumático,
somatização, distimia (caracterizada por uma depressão leve e
crônica)- somam 28,6% entre
os que vivem da pesca e 3,9% entre os demais.
Um dos índices mais alarmantes é o de esquizofrenia, que, embora tenha índice nulo entre a população local, chega a atingir 3,2%
de todos os pescadores. Uma das
hipóteses é a de que os portadores
de esquizofrenia se adaptem melhor a atividades que não exijam
contato interpessoal.
"Essa profissão gera muita ansiedade, estresse e esgotamento.
Os homens sofrem de solidão,
pois passam muito tempo longe
da família e perdem o contato
com as outras pessoas. Além disso, temem os riscos da natureza e,
em um processo mais recente, a
concorrência desleal dos pesqueiros industriais", justifica o psiquiatra responsável pelo estudo.
Por R$ 500
De acordo com Bezerra, esse é o
primeiro estudo epidemiológico
desenvolvido com pescadores.
"Antes só existiam análises antropológicas e sociológicas. No dia-a-dia do atendimento ambulatorial, fui observando a prevalência
de psicoses e uso de drogas nessa
comunidade."
A pesca aparece como principal
fonte de renda para 38% dos habitantes de Vigia. De 37 mil moradores, 14 mil sobrevivem graças à
atividade. Os pescadores chegam
a passar até 30 dias em alto-mar,
em embarcações precárias e sem
comunicação em terra. Tudo isso
para, no final do mês, receber algo
em torno de R$ 500.
"A vida de pescador é difícil, diferentemente do que a maioria
das pessoas pensa. Quando chego
à cidade, tomo umas cervejinhas
para esfriar a cabeça", afirma o
pescador Geraldo Couto.
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