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"Queria me chamar Nicole", diz James
Adolescente baiana de 16 anos afirma que gostaria de trocar o seu nome e que pretende ter uma filha chamada Jennifer
Garota diz que já ganhou dos colegas o apelido de James Bond, o personagem espião 007
da inteligência britânica
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais do que trocar o sexo
masculino da certidão de nascimento, James Alves da Silva
quer mudar o nome.
"É esquisito. E também é nome de homem, eu não gosto."
Quer batizar a filha de Jennifer, por causa de uma atriz
americana de TV. E sonha em
se chamar Nicole.
Grávida de dois meses aos
16 anos, não tem assistência do
sistema público de saúde porque é homem para os registros
do Estado. Também não consegue casar com o companheiro,
José Rocha Pereira, 28, nem vai
poder registrar a criança.
Mas de onde vem o nome James?
"Da minha cabeça, da minha
imaginação. Acho um nome tão
bonito!", diz a mãe, Ana Célia
Alves da Silva, 37.
E se não fosse James?
"Seria Tabita [sílaba tônica
no "bi"] ou Sadoque, se fosse
menino", responde Ana Célia.
"Que horror, sai fora!", rebate
James.
Baiana de Banco Central, zona rural de Ilhéus, a mãe teve
todos os seis filhos na roça, uns
com ajuda de parteira, outros
por conta própria. A vassoura
de bruxa, praga da monocultura de cacau, forçou a família a
migrar a São Paulo nos anos 90.
O sexo trocado na certidão de
nascimento de James decorreu
da desatenção do notário, à
época "um velhinho de óculos".
A família só se deu conta do
erro quando James tinha 15
anos e pediu a segunda via do
documento, que estava desgastado pelo tempo, com a intenção de tirar o RG.
Não raro, a menina era apelidada de James Bond, o espião
007 da inteligência britânica.
"Quando crescer", diz a menina que descobriu a gravidez
em teste de farmácia, quer ser
professora de qualquer coisa.
(VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)
FOLHA - Você gosta do seu nome?
JAMES ALVES DA SILVA - Não [ela
ri].
FOLHA - Por quê?
JAMES - Ah! É esquisito, ninguém tem esse nome. Também
é nome de homem, não gosto.
FOLHA - Qual nome você quer ter?
JAMES - Nicole.
FOLHA - Por quê?
JAMES - Porque eu acho bonito.
FOLHA - De onde você tirou Nicole?
JAMES - Da televisão, dos filmes, das novelas.
FOLHA - Você lembra de alguma
personagem que te inspirou?
JAMES - É aquela atriz, Jennifer
Nicole [Freeman]. Ai, esqueci o
nome do... "Eu, a Patroa e as
Crianças". É uma série [transmitida por Sony e SBT].
FOLHA - E qual nome você quer dar
a seu filho?
JAMES - Jennifer.
FOLHA - Mas você nem sabe se é
menino ou menina. Ainda nem fez
os exames...
JAMES - Acho que é menina,
mas ainda não fiz o ultra-som.
Queria menina.
FOLHA - Já foi ao posto de saúde?
JAMES - Ainda não consegui
marcar os exames.
FOLHA - Na escola você nunca teve
nenhum problema?
JAMES - Só me chamavam de
James [na forma masculina,
"Jeimes"].
FOLHA - E o que você sentia nessa
hora?
JAMES - Ficava com uma raiva!
Uma vez até discuti com a professora, que insistia em me chamar de James [na forma masculina].
FOLHA - E te chamavam de James
Bond?
JAMES - Demais [ela ri].
FOLHA - E como você soube que era
do "sexo masculino"?
JAMES - Quando meu pai voltou da Bahia [e trouxe uma segunda cópia da certidão de nascimento], eu li. E quando fomos
tirar o RG disseram que não
passava porque era do sexo
masculino. Fiquei triste.
FOLHA - E te deu vontade de quê?
JAMES - Quero trocar o nome.
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