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HIV dribla o coquetel e reduz otimismo
AURELIANO BIANCARELLI
JAIRO BOUER
enviados especiais a Genebra
O otimismo de Vancouver, que
dois anos atrás animou o mundo
com as esperanças do coquetel, foi
substituído pelo realismo e a precaução de Genebra.
A eliminação do vírus HIV, que
parecia tão próxima, foi empurrada para um futuro sem data.
O objetivo agora é encontrar
drogas e formas de manter o vírus
sob o controle do organismo.
Nesse tempo, espera-se que a
descoberta de medicamentos mais
potentes possam decidir um segundo round contra o vírus.
O cientista norte-americano David Ho, saudado como o cavaleiro
da esperança no congresso mundial de Aids do Canadá, fez ontem
na Suíça um discurso de pés no
chão: apesar de reduzir as hospitalizações e a mortalidade, os esquemas atuais de tratamento continuam sendo driblados pelo HIV.
Ho e outros cientistas disseram
ontem que o vírus é capaz de se
multiplicar mesmo quando reduzido a baixíssimas quantidades no
sangue pela ação do coquetel.
Quando o vírus parecia encurralado e quase eliminado pelas drogas, descobriu-se que estava protegido e adormecido nas células de
memória, células especiais do organismo capazes de armazenar informações por um longo tempo.
Como os remédios só agem na
fase de multiplicação do vírus, os
cientistas terão de encontrar formas para acordá-lo e atacá-lo.
Há descobertas animadoras: o
número de vírus nas células de
memória estaria sendo reduzido
pelo uso prolongado das drogas.
Luis Fernando Brígido, do Instituto Adolfo Lutz de São Paulo, diz
que o fato mostra que essas células
são sensíveis ao tratamento, o que
"é uma boa notícia".
As mesmas drogas estariam debilitando o HIV a tal ponto que
sua capacidade de infectar novas
células teria diminuído muito.
Estudos mostram também que,
quanto mais cedo o tratamento
começar, mais chance haverá de o
sistema imunológico ser preservado de forma a combater as eventuais sobras de vírus.
O momento, no entanto, é mais
de desafios que de apontar vitórias, afirmam os cientistas.
Entre esses desafios, está a busca
de combinações e novas drogas
que possam, causando menos danos, fortalecer a atividade do sistema de defesa. Outro desafio -diz
Mauro Schechter, da Universidade Federal do Rio de Janeiro- é
saber quando começar o uso de
drogas de forma a danificar menos
o sistema imunológico.
Diante de um quadro tão diverso, o cenário de Genebra está dividido entre animação e ceticismo.
Entre os otimistas, o norte-americano Roberto Siliciano, da Universidade John Hopkins, diz que
"a cura não é um mito". É uma
questão de tempo.
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