São Paulo, quarta, 1 de julho de 1998

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PM matou 5.495 civis em oito anos

CRISPIM ALVES
da Reportagem Local

Levantamento inédito realizado pela Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo por determinação da Secretaria da Segurança Pública revela que a PM matou 5.495 civis em oito anos e quatro meses.
Os dados foram publicados ontem no "Diário Oficial" do Estado. A elaboração desse levantamento foi determinada pela secretaria após a descoberta de divergências entre os números de civis mortos publicados no "Diário Oficial" e a realidade.
Essas divergências foram detectadas no início do ano pelo ouvidor da polícia, Benedito Mariano.
A Folha revelou que, de janeiro de 96 a abril de 98, a PM deixou de comunicar ao gabinete do secretários 318 civis mortos por integrantes da corporação.
O problema ocorreu porque a secretaria sempre publicou no DOE dados relativos, apenas, aos casos de resistência seguida de morte ocorridos quando o policial estava em serviço.
Não eram computados os mortos quando o policial estava em folga nem os casos de homicídio -quando a Corregedoria da PM entende que não houve resistência seguida de morte. Os 318 mortos a mais estão incluídos nessas faixas.
Por esse motivo, a secretaria determinou que a Polícia Militar -e também a Polícia Civil- publicassem no "Diário Oficial" do Estado todos os dados relativos à violência policial no Estado.
Foi pedido também que o levantamento abrangesse também os anos de 90 a 94.
Ontem, por mais de três horas, o coronel Carlos Alberto de Camargo, comandante-geral da PM, explicou aos deputados da comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa os motivos das divergências.
Camargo voltou a reafirmar que nunca houve intenção do comando da tropa em ocultar os dados. "Nenhum caso deixou de ser comunicado à secretaria".
De acordo com ele, todas as ocorrências envolvendo policiais são listadas em uma publicação interna da PM chamada "Informativo".
Essa publicação, diz Camargo, é enviada diariamente à Secretaria da Segurança Pública. "Nas primeiras horas da manhã, esse documento é aberto. Nós não temos nada a esconder de ninguém. É tolo dizer que alguma coisa possa ser escondida do povo numa democracia". A assessoria de imprensa da secretaria informou que não iria comentar as declarações de Camargo.

Aumento

Camargo reconheceu que aumentou significativamente o número de civis mortos pela PM.
Durante todo o ano passado, policiais militares mataram 405 civis em ocorrências de resistência seguida de morte ou simplesmente homicídios.
Nos primeiros cinco meses deste ano, o número chega a 200.
Camargo atribui o agravamento do problema ao relaxamento do Proar (Programa de Acompanhamento de Policiais Envolvidos em Ocorrências de Alto Risco).
O comandante-geral da PM voltou a prometer que a Polícia Militar de São Paulo será a organização mais transparente do país. "O policial não é um vilão. Ele não é o algoz da sociedade."
Durante o depoimento prestado à comissão de Direitos Humanos, Camargo expôs todos os projetos que pretende desenvolver à frente da PM.
O oficial voltou a pedir apoio da sociedade e de entidades civis para realizar as mudanças que pretende fazer. "Nós vamos fazer as mudanças na política de uma forma ou de outra, mas isso seria muito mais fácil se não houvesse o preconceito que existe."



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