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Pressão de empresas já havia adiado reforma
Impasse entre companhias aéreas nacionais e estrangeiras provocou a suspensão das obras em Cumbica
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) atendeu a pressões das companhias aéreas e,
contra a vontade da Infraero
(estatal que administra os aeroportos), adiou a reforma no aeroporto de Cumbica, programada para começar em 10 de
julho, uma semana antes do
acidente em Congonhas.
O conflito de interesses entre
as partes -Infraero e empresas
aéreas nacionais e estrangeiras- é descrito na ata de reunião realizada pela Anac em 13
de junho para discutir o início
das obras em Cumbica.
Enquanto a estatal defendia
o início das obras em 10 de julho, as aéreas nacionais protestavam -perderiam passageiros
durante as férias e o Pan do Rio.
Por outro lado, as empresas
estrangeiras reclamavam da
possibilidade de a obra se estender em dezembro, período
de sua maior rentabilidade.
Ao final da reunião, a Anac
afirma que seria fixado um novo período, entre 23 de julho e
15 de dezembro, mas, com o
acidente, o processo parou e
vôos de Congonhas foram
transferidos para Cumbica.
O lobby das empresas na
Anac já havia ocorrido na reforma de Congonhas. Partiu delas
a pressão para que a pista principal, local do acidente, estivesse reaberta em julho. Foi entregue em 30 de junho, ainda sem
o "grooving" (ranhuras).
Procurada ontem, a Anac
afirmou que só poderá se manifestar sobre a reunião hoje.
O diretor técnico do Snea
(sindicato das empresas aéreas), Ronaldo Jenkins Lemos,
transfere a responsabilidade da
decisão à agência. "Quem determina se vai ou não fazer se
chama Anac. Não é empresa aérea que determina", disse.
No preâmbulo de reunião, a
Anac coloca em deliberação a
proposta de interditar uma das
pistas de Guarulhos de 10 de julho a 11 de dezembro.
Na abertura, o gerente de
serviços operacionais da Superintendência de Infra-Estrutura Aeroportuária da agência,
Job Batista Gâmbaro, diz que
""as obras de Guarulhos já estavam previstas há tempos". E argumenta que "em julho as operações em Congonhas [então
em reforma da pista principal]
já estarão normalizadas".
Chamado a falar, o superintendente-adjunto da regional
Sudeste da Infraero, João Márcio Jordão, reitera a necessidade da reforma da pista e lembra
"que o assunto já foi tratado em
três reuniões", conforme a ata.
A resistência das companhias brasileiras é tão evidente
que todas elas -TAM, Gol,
OceanAir e BRA- tomam posição contra fechar a pista principal de Cumbica em julho.
A primeira a reclamar da
obra em julho é a TAM. O gerente de planejamento, Marcos
Castanheiro, diz que as passagens da empresa em julho "estão todas vendidas". Afirma
ainda que também a TAM seria
obrigada a reduzir o número de
passageiros por aeronave, já
que a outra pista de Guarulhos
tem menores dimensões. Defende a reforma só em agosto.
A Gol endossa a posição. O
gerente de planejamento da
Gol, Hildoberto de Oliveira, se
diz "preocupado", pois julho,
dizia, concentra um alto número de vôos extras e "charters".
Diante do impasse entre empresas nacionais e estrangeiras,
João Márcio Jordão, da Infraero, toma a palavra e afirma que
não há como conciliar os interesses. Isso porque não haveria
a garantia de que, iniciadas em
agosto, as obras seriam concluídas antes de dezembro, como queriam as estrangeiras,
em razão do período chuvoso.
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