São Paulo, quarta-feira, 01 de agosto de 2007

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Pressão de empresas já havia adiado reforma

Impasse entre companhias aéreas nacionais e estrangeiras provocou a suspensão das obras em Cumbica

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) atendeu a pressões das companhias aéreas e, contra a vontade da Infraero (estatal que administra os aeroportos), adiou a reforma no aeroporto de Cumbica, programada para começar em 10 de julho, uma semana antes do acidente em Congonhas.
O conflito de interesses entre as partes -Infraero e empresas aéreas nacionais e estrangeiras- é descrito na ata de reunião realizada pela Anac em 13 de junho para discutir o início das obras em Cumbica.
Enquanto a estatal defendia o início das obras em 10 de julho, as aéreas nacionais protestavam -perderiam passageiros durante as férias e o Pan do Rio.
Por outro lado, as empresas estrangeiras reclamavam da possibilidade de a obra se estender em dezembro, período de sua maior rentabilidade.
Ao final da reunião, a Anac afirma que seria fixado um novo período, entre 23 de julho e 15 de dezembro, mas, com o acidente, o processo parou e vôos de Congonhas foram transferidos para Cumbica.
O lobby das empresas na Anac já havia ocorrido na reforma de Congonhas. Partiu delas a pressão para que a pista principal, local do acidente, estivesse reaberta em julho. Foi entregue em 30 de junho, ainda sem o "grooving" (ranhuras).
Procurada ontem, a Anac afirmou que só poderá se manifestar sobre a reunião hoje.
O diretor técnico do Snea (sindicato das empresas aéreas), Ronaldo Jenkins Lemos, transfere a responsabilidade da decisão à agência. "Quem determina se vai ou não fazer se chama Anac. Não é empresa aérea que determina", disse.
No preâmbulo de reunião, a Anac coloca em deliberação a proposta de interditar uma das pistas de Guarulhos de 10 de julho a 11 de dezembro.
Na abertura, o gerente de serviços operacionais da Superintendência de Infra-Estrutura Aeroportuária da agência, Job Batista Gâmbaro, diz que ""as obras de Guarulhos já estavam previstas há tempos". E argumenta que "em julho as operações em Congonhas [então em reforma da pista principal] já estarão normalizadas".
Chamado a falar, o superintendente-adjunto da regional Sudeste da Infraero, João Márcio Jordão, reitera a necessidade da reforma da pista e lembra "que o assunto já foi tratado em três reuniões", conforme a ata.
A resistência das companhias brasileiras é tão evidente que todas elas -TAM, Gol, OceanAir e BRA- tomam posição contra fechar a pista principal de Cumbica em julho.
A primeira a reclamar da obra em julho é a TAM. O gerente de planejamento, Marcos Castanheiro, diz que as passagens da empresa em julho "estão todas vendidas". Afirma ainda que também a TAM seria obrigada a reduzir o número de passageiros por aeronave, já que a outra pista de Guarulhos tem menores dimensões. Defende a reforma só em agosto.
A Gol endossa a posição. O gerente de planejamento da Gol, Hildoberto de Oliveira, se diz "preocupado", pois julho, dizia, concentra um alto número de vôos extras e "charters".
Diante do impasse entre empresas nacionais e estrangeiras, João Márcio Jordão, da Infraero, toma a palavra e afirma que não há como conciliar os interesses. Isso porque não haveria a garantia de que, iniciadas em agosto, as obras seriam concluídas antes de dezembro, como queriam as estrangeiras, em razão do período chuvoso.


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