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Bebê brasileiro toma só leite materno por apenas dois meses
OMS (Organização Mundial da Saúde) diz que crianças devem ser alimentadas até os seis meses exclusivamente com o leite da mãe
Apesar de o próprio governo defender os seis meses de amamentação, mulheres têm apenas quatro meses de licença-maternidade
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Os bebês brasileiros são alimentados exclusivamente com
o leite de suas mães em média
até os dois meses de vida, revela
uma pesquisa com cerca de
5.000 crianças realizada em
2006 por encomenda do Ministério da Saúde. Dez anos antes,
os bebês alimentavam-se exclusivamente do leite materno
só durante o primeiro mês.
O tempo, apesar de ter dobrado, é baixo. A OMS (Organização Mundial da Saúde) faz
campanhas insistindo para que
os bebês sejam alimentados
com o leite, e nada mais, até os
seis meses. Enquanto mamam,
não precisam nem de água.
Hoje tem início a Semana
Mundial da Amamentação, que
tem como objetivo disseminar
a importância dos seis meses.
O leite materno oferece às
crianças os nutrientes e anticorpos necessários para que
cresçam com saúde (veja os benefícios em quadro ao lado).
Vários fatores levam aos pífios dois meses de aleitamento
exclusivo no Brasil. Um deles é
o mercado de trabalho. Apesar
de o próprio governo defender
os seis meses de amamentação,
a lei trabalhista só dá quatro
meses de licença-maternidade.
Também favorece o desmame precoce o fato de poucas
empresas oferecerem creches
aos filhos das funcionárias.
Com uma creche perto, poderiam sair para amamentar seus
bebês durante o expediente.
Nesses casos, os pediatras recomendam que se armazene o
leite na geladeira, para ser dado
aos bebês quando as mães estiverem fora.
Certas crenças também atrapalham. "Existe muita insegurança materna. Algumas mães
acham que o leite não hidrata o
suficiente ou que não são capazes de produzir todo o leite de
que a criança precisa", afirma
Elsa Giugliani, responsável no
Ministério da Saúde pelos temas de saúde infantil.
A médica Graciete Vieira, da
Sociedade Brasileira de Pediatria, lembra o mito de que chazinhos são bons contra cólicas.
"Não é verdade. A água aumenta o risco de contaminação."
Uma pesquisa feita em Feira
de Santana (BA), em 2004, com
1.370 mulheres que haviam
acabado de dar à luz mostrou
que perto de 50% nem sabiam
quanto tempo pretendiam
amamentar. Do total, cerca de
30% admitiram a intenção de
dar água, chá ou suco nos primeiros meses.
Para Maria Lúcia Futuro, da
ONG Amigas do Peito, deve-se
trabalhar com a conscientização das crianças na escola. "Na
loja de brinquedo, é impossível
encontrar uma boneca que não
venha com mamadeira. Nos desenhos e nos livros infantis, é a
mesma coisa. Como a criança
pode formar um conceito favorável à amamentação?"
A OMS recomenda que, aos
seis meses, as crianças comecem a receber outros alimentos, mas que o leite continue
sendo dado até os dois anos.
Segundo mostrou a pesquisa
do Ministério da Saúde feita em
2006, no entanto, o período de
aleitamento total no país, em
vez dos 24 meses recomendados, é de apenas nove meses.
Nesse caso, os médicos costumam ser mais flexíveis -dizem que não há prejuízo para
os bebês. "As mulheres não
precisam se sentir culpadas se
não conseguirem amamentar
até os dois anos", diz Tânia Page, pediatra da maternidade Sinhá Junqueira, de Ribeirão
Preto (SP). "O mais importante
é que, até os seis meses, o leite
seja o único alimento."
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