São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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PLANO DIRETOR

Verticalização e criação de comércio aumenta fluxo de carros e agrava falta de vaga para estacionamento

Mudança de zona piora o trânsito local

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma casa com quatro moradores produz a média de oito deslocamento diários de ida e volta. Substituída por uma pequena loja, com três funcionários, eles sobem para 40. Se uma escola for instalada no mesmo lugar, pode haver mais de 300 viagens saindo ou chegando naquela via.
"Agora imagine a mudança em uma quadra inteira, e não em uma casa. A progressão é rápida demais", diz Eduardo Vasconcelos, diretor-executivo-adjunto da ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos), que faz essa simulação, sem rigor científico, para mostrar os efeitos da mudança de Z1 para Z2 no trânsito.
O aumento do fluxo de veículos é só um dos problemas. Uma característica entre as vias afetadas pelo novo zoneamento é a falta de vagas de estacionamento -por serem estreitas, como a rua Jacatirão, na Chácara Monte Alegre; ou por já terem circulação intensa, como na Vila Nova Conceição, onde manobristas do comércio de moda fazem fila dupla para recolher os veículos dos clientes.
As interferências no trânsito também se agravam na substituição de casas por prédios. O urbanista Cândido Malta faz uma projeção do potencial de construção nos 84 mil mē de ruas atingidas pela mudança no Alto da Boa Vista e conclui: no lugar onde hoje, pelo zoneamento, as residências podem acumular 340 carros, poderá haver mais de 7.000.
Até mesmo a coleta de lixo costuma trazer impacto na circulação com a mudança de Z1 para Z2: os caminhões demoram mais tempo nas ruas onde há edifícios, porque precisam recolher mais volumes de lixo, atrapalhando a passagem de veículos.
A maioria dos especialistas em trânsito ressalva, porém, que as interferências nas quatro áreas não chegam a afetar os congestionamentos da cidade inteira.
"São situações pontuais, localizadas, em microrregiões", afirma Roberto Scaringella, fundador e ex-presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
"O impacto é na vizinhança. A maior preocupação é conceitual, para a gente não ter milhares de situações pontuais, que, no final, poderão aumentar os congestionamentos em geral", diz Eduardo Vasconcelos, da ANTP.
A verticalização, levada ao extremo, pode congestionar ainda as vias de distribuição de água. Embora a rede tenha um potencial ocioso, se a demanda aumentar muito será necessário adaptar o sistema de abastecimento, diz Francisco Paracampos, assessor da Vice-Presidência Metropolitana de Distribuição da Sabesp. "É preciso avaliar como se dará a mudança de ocupação na prática e a sua velocidade."


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