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ETERNAMENTE À MARGEM
Três moradores de rua não foram identificados
Vítimas 3309, 3328 e 3333 são enterradas
LUÍSA BRITO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Identificados só pelos números dos laudos do IML (Instituto Médico Legal), três moradores de rua assassinados nos ataques ocorridos no centro de
São Paulo foram enterrados
ontem no cemitério Dom Bosco, em Perus (zona norte).
Outro morador de rua enterrado, Antônio Odilon dos Santos, só foi reconhecido no arquivo de identificação estadual.
Antônio Odilon (o 3300) e as
vítimas 3309, 3328 e 3333 foram sepultados na gleba 1, quadra 3, onde estavam os restos
de quatro pessoas também assassinadas em um massacre, o
do Carandiru, em 1992.
O sepultamento, visto por
cerca de 30 pessoas, causou comoção. Motoristas dos carros
funerários ligaram as sirenes, o
que é feito apenas em enterros
de colegas de trabalho.
A jardineira do cemitério,
Zuleide Correia da Silva, prometeu cobrir com grama as sepulturas para a superfície não
ficar revestida apenas por terra
e pôr placas de mármore nos
túmulos, identificando, ainda
que com números, os corpos.
Trajes e o caixão, modelo urna nobre, foram doados. Adornando o funeral, só uma coroa
de flores da prefeita Marta Suplicy com a mensagem "Assassinados pela intolerância".
Condutor da cerimônia religiosa que antecedeu o enterro,
o padre Júlio Lancellotti, da
Pastoral do Povo de Rua, fez
um apelo para que o episódio
não volte a acontecer e criticou
a sociedade. "Eles são mártires
que mancharam a cidade de
sangue, mas mancharam a
nossa consciência também da
culpa de uma cidade que é a
maior e mais rica do país e não
consegue dar conta de 10 mil
pessoas que vivem nas ruas."
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