São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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ETERNAMENTE À MARGEM

Três moradores de rua não foram identificados

Vítimas 3309, 3328 e 3333 são enterradas

LUÍSA BRITO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Identificados só pelos números dos laudos do IML (Instituto Médico Legal), três moradores de rua assassinados nos ataques ocorridos no centro de São Paulo foram enterrados ontem no cemitério Dom Bosco, em Perus (zona norte).
Outro morador de rua enterrado, Antônio Odilon dos Santos, só foi reconhecido no arquivo de identificação estadual.
Antônio Odilon (o 3300) e as vítimas 3309, 3328 e 3333 foram sepultados na gleba 1, quadra 3, onde estavam os restos de quatro pessoas também assassinadas em um massacre, o do Carandiru, em 1992.
O sepultamento, visto por cerca de 30 pessoas, causou comoção. Motoristas dos carros funerários ligaram as sirenes, o que é feito apenas em enterros de colegas de trabalho.
A jardineira do cemitério, Zuleide Correia da Silva, prometeu cobrir com grama as sepulturas para a superfície não ficar revestida apenas por terra e pôr placas de mármore nos túmulos, identificando, ainda que com números, os corpos.
Trajes e o caixão, modelo urna nobre, foram doados. Adornando o funeral, só uma coroa de flores da prefeita Marta Suplicy com a mensagem "Assassinados pela intolerância".
Condutor da cerimônia religiosa que antecedeu o enterro, o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, fez um apelo para que o episódio não volte a acontecer e criticou a sociedade. "Eles são mártires que mancharam a cidade de sangue, mas mancharam a nossa consciência também da culpa de uma cidade que é a maior e mais rica do país e não consegue dar conta de 10 mil pessoas que vivem nas ruas."


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