São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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"O abrigo é bom, mas te escraviza"

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Críticas ao modelo tradicional de gestão dos albergues públicos e filantrópicos foram feitas ontem por moradores de rua e estudiosos do assunto, reunidos no 3º Festival Lixo e Cidadania, que vai até sexta-feira, em Belo Horizonte.
Durante a conferência de abertura, Inês Pereira de Lima, 47, representante do Movimento de Luta do Povo de Rua, questionou as formas de atendimento à população-alvo dos albergues. "A maioria está nas ruas porque bebe, tem problemas com drogas, e por isso não pode entrar no albergue. Não tem outro lugar, a não ser a rua", disse Lima. Ela já morou nas ruas de São Paulo e hoje vive em uma república no centro da cidade.
Os albergues, na maioria dos casos, proíbem a entrada e permanência de pessoas alcoolizadas, segundo Maria Regina Emanoel, 54, integrante do Fórum Nacional de Estudos sobre População de Rua. "Se o morador de rua está alcoolizado, é preciso haver um serviço que possa atendê-lo naquela condição", disse ela.
Por não concordar com as regras de funcionamento do local, o morador de rua Sérgio José de Paula Santos, 44, do Rio de Janeiro, disse ter deixado, há 15 dias, um abrigo do governo fluminense. "O abrigo é bom, porque te protege, mas te escraviza", disse Santos.

Agressões
Um estudante de 14 anos e um mecânico foram presos em Eunápolis (a 644 km de Salvador) sob a acusação de provocar traumatismo craniano no morador de rua Idelbrando Pereira dos Santos.
Segundo a PM, Santos foi agredido com socos e pontapés por três pessoas, na madrugada de anteontem, enquanto dormia em uma rua no centro do município. O suposto terceiro agressor está foragido.
A Polícia Civil de Campinas (95 km a noroeste de São Paulo) vai investigar o suposto espancamento de um morador de rua, ocorrido anteontem. Esse foi o terceiro morador de rua agredido na cidade nos últimos quatro dias. A vítima foi internada e seu estado de saúde é considerado bom.


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