|
Texto Anterior | Índice
O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.
NINA HIGUCHI (1922-2009)
Para a costureira, nada era impossível
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Nina Higuchi costumava
dizer que nada era impossível. Aos 28 anos, ficou viúva
40 dias depois do nascimento da filha Maria de Lourdes.
Ela tinha, então, outros cinco
filhos para criar -a mais velha havia acabado de completar sete anos.
Sozinha com os filhos, pobre e sem estudos, Nina não
teve tempo nem de chorar. E
se alguém a chamasse de coitada, logo levava uma bronca: "Coitado foi meu marido,
que quase não viveu".
Mudou-se para São Miguel
Paulista -no extremo leste
de São Paulo- e passou a
costurar para fora. Para todos os problemas, ela sempre
encontrava uma solução.
Quando os filhos precisavam de cadernos, ela mesma
fazia um, com as folhas em
branco que sobraram do ano
anterior. Os livros, encapados com pano e costurados,
passavam de filho para filho.
O estudo das crianças era
prioridade, já que ela mesma
não pôde estudar. Filha de
imigrantes japoneses, trabalhou desde pequena nas lavouras de café paulistas.
Quando três de suas filhas
sonhavam em ser médicas,
Nina disse a elas que tudo era
possível -as meninas foram
aprovadas na USP. Outra estudou enfermagem na mesma universidade.
Na última quinta, Nina, 97,
sofreu um AVC (acidente
vascular cerebral) e morreu
no sábado. Deixou os seis filhos, 17 netos e três bisnetos.
Para a família, será a hora
de ela reencontrar com o marido depois de 58 anos. Ela
diria que nada é impossível.
coluna.obituario@uol.com.br
Texto Anterior: Mortes Índice
|