São Paulo, terça-feira, 01 de setembro de 2009

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NINA HIGUCHI (1922-2009)

Para a costureira, nada era impossível

TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nina Higuchi costumava dizer que nada era impossível. Aos 28 anos, ficou viúva 40 dias depois do nascimento da filha Maria de Lourdes.
Ela tinha, então, outros cinco filhos para criar -a mais velha havia acabado de completar sete anos.
Sozinha com os filhos, pobre e sem estudos, Nina não teve tempo nem de chorar. E se alguém a chamasse de coitada, logo levava uma bronca: "Coitado foi meu marido, que quase não viveu".
Mudou-se para São Miguel Paulista -no extremo leste de São Paulo- e passou a costurar para fora. Para todos os problemas, ela sempre encontrava uma solução.
Quando os filhos precisavam de cadernos, ela mesma fazia um, com as folhas em branco que sobraram do ano anterior. Os livros, encapados com pano e costurados, passavam de filho para filho.
O estudo das crianças era prioridade, já que ela mesma não pôde estudar. Filha de imigrantes japoneses, trabalhou desde pequena nas lavouras de café paulistas.
Quando três de suas filhas sonhavam em ser médicas, Nina disse a elas que tudo era possível -as meninas foram aprovadas na USP. Outra estudou enfermagem na mesma universidade.
Na última quinta, Nina, 97, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) e morreu no sábado. Deixou os seis filhos, 17 netos e três bisnetos.
Para a família, será a hora de ela reencontrar com o marido depois de 58 anos. Ela diria que nada é impossível.

coluna.obituario@uol.com.br


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