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INFÂNCIA
Justiça condena governo em caso de adolescente infrator enforcado dentro de instituição pública
DF indenizará por morte de interno
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília
A Justiça do Distrito Federal determinou que o governo indenize
por danos morais e materiais a família do adolescente Giovane de
Sousa Costa, 17, assassinado dentro do Caje (instituto que abriga
menores infratores) em 28 de setembro de 97.
A sentença do juiz da 1ª Vara de
Fazenda Pública obriga o Estado a
pagar à família do garoto R$
23.700 -R$ 15 mil por danos morais e R$ 8.700 por danos materiais. A ação, movida pela família
de Giovane com apoio do Movimento Nacional dos Meninos e
Meninas de Rua (MNMMR), pedia R$ 250 mil por danos morais e
R$ 69.120 por danos materiais.
É a primeira vez que o DF é responsabilizado pela morte de adolescente infrator que cumpria internação. Desde 97, 11 menores
morreram dentro das dependências do Caje (Centro de Atendimento Juvenil Especializado). Só
neste ano foram dois assassinatos.
A sentença do juiz Walter Muniz de Souza afirma que, como o
menor estava sob a guarda do governo do DF, "o Estado tinha a
obrigação de lhe garantir a integridade física e moral".
Giovane foi estrangulado com
um lençol na cela que dividia com
outros dois garotos na noite de 28
de setembro. Ele foi encontrado
por um monitor desmaiado no
chão da cela, mas morreu antes de
chegar ao hospital.
Os dois adolescentes admitiram
que o haviam enforcado. Segundo
depoimento dos garotos, Giovane
havia pedido para ser morto porque não queria ser transferido para a ala de sentenciados, o que deveria acontecer no dia seguinte.
Ainda segundo eles, Giovane tinha medo do tratamento que receberia na nova ala, já que havia
sido sentenciado por estupro.
A família nega essa versão e oferece como prova uma carta escrita por Giovane a uma amiga na
véspera de ser morto. Na carta,
prometia visitá-la quando saísse
do Caje. "Dê lembranças a Cleube
e a todos aí. Como eu já fui sentenciado, não sei a previsão de
sair. Mas um dia eu vou sair e acabo aparecendo aí", diz a carta.
O governo do DF alegou que
Giovane havia se suicidado. Para
o juiz, o debate (homicídio ou suicídio) é irrelevante. "Em qualquer
uma das hipóteses, o Caje conduziu à morte de Giovane", diz a
sentença. Segundo Walter Sousa,
o Caje foi "omisso", "insuficiente"
e "negligente".
Para a advogada do MNMMR,
Climene Quirido, a decisão do
juiz é importante porque sinaliza
que o Estado pode ser responsabilizado pela morte de adolescentes
infratores que estão internados.
"Não é só o efeito pecuniário
que importa, mas o efeito moral
da sentença, que vai forçar o governo a resolver o problema do
Caje de uma vez por todas."
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