São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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ESPAÇO URBANO
Prefeitura instala postes de luz em cemitérios para aumentar vigilância e se preparar para sepultamentos à noite
Projeto ilumina "vida noturna" da necrópole

Evelson de Freitas/Folha Imagem
Cemitério da Freguesia do Ó, eleito pela prefeitura como palco do projeto-piloto de iluminação


SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem passa à noite pelo início da avenida Itaberaba, na Freguesia do Ó, zona noroeste de São Paulo, estranha. O cemitério situado no bairro, cercado de muros altos, está iluminado como uma praça pública.
Com o objetivo de controlar a "vida noturna" intensa dos cemitérios públicos -que envolve, entre outras práticas, tráfico de drogas, assalto, ocultação de cadáver e briga de gangues-, a prefeitura inaugurou, em julho, um projeto-piloto de iluminação desses espaços.
A iluminação tem, como segunda meta, preparar a cidade para sepultamentos noturnos.
O primeiro a ganhar luz foi o da Freguesia do Ó, onde a idéia está sendo experimentada. Os próximos dois, segundo o Serviço Funerário Municipal, serão o de Santo Amaro e o de Campo Grande (zona sul). As luminárias desses chegarão no próximo mês.
Por enquanto, não foi preciso licitação para tocar as obras. A iluminação do cemitério da Freguesia do Ó foi executada pelo Departamento de Edificações da Secretaria Municipal de Obras, ao custo de R$ 62 mil. Foram necessárias 95 luminárias brancas de 160 watts cada para iluminar os 15 mil m2 do cemitério.
Porém, quando chegar a vez dos cemitérios de maior movimentação noturna -São Luiz (zona sul) e Vila Formosa (zona sudeste)-, a conta ficará bem mais alta. Esses têm, respectivamente, 326 mil m2 e 763 mil m2.
Em fim de gestão, a prefeitura optou por começar pelos menores. A continuidade do projeto dependerá da próxima administração. "Iluminar o da Vila Formosa seria como dar luz a uma cidade. Há cerca de 2 milhões de mortos enterrados lá", afirma José Blota Neto, superintendente do Serviço Funerário Municipal.
Segundo Blota, não há estatísticas oficiais de delitos cometidos dentro de cemitérios. "As dificuldades são sentidas no dia-a-dia."
Os obstáculos em apurar os casos, de acordo ele, se devem à pouca vigilância dos cemitérios e ao tipo de crime.
Há três meses, foi implantada a Guarda da Paz, da Guarda Civil Metropolitana, nesses locais. Até então, cada cemitério contava apenas com um ou dois vigias.
"Essas pessoas, e os próprios usuários, nos relatavam os acontecimentos. Há pouco tempo, os acompanhantes do enterro de um assaltante morto em combate com a polícia roubaram as flores do velório vizinho, no cemitério do Jardim São Luiz", conta.
O relatório de acontecimentos é extenso, até porque o número de grupos que frequentam cemitérios fora do horário de funcionamento não é pequeno.
A frequência varia de acordo com a localização do cemitério, mas, geralmente, disputam o espaço prostitutas, violadores de túmulos, mendigos (que dormem nos jazigos), traficantes de drogas, góticos e punks, umbandistas e catadores de parafina.
"Houve uma época em que o cemitério da Consolação chegou a ter 2.000 "moradores'", diz Blota.
No cemitério do Jardim São Luiz, de acordo com a 6ª Delegacia Seccional, foram achados dois corpos de pessoas assassinadas.
Um deles, de uma mulher, estava enterrado em uma cova rasa, mas parte ficou na superfície.
"Os cemitérios são muito amplos e escuros. Muitos guardas já foram assaltados na ronda noturna. Roubaram-lhes a roupa e a arma", afirma Blota.


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