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Consolação vai virar novo museu
DA REPORTAGEM LOCAL
Os cemitérios da Consolação,
do Araçá (na região central) e o
Necrópole São Paulo, em Pinheiros (zona sudoeste), formam um
complexo museológico que, nos
próximos meses, deverá ganhar
tratamento especial da prefeitura.
Segundo o artista plástico e historiador tumular do Serviço Funerário Municipal, Délio Freire
dos Santos, 76, o trabalho de identificação das obras do Consolação
já foi concluído.
"As placas de acrílico com as
anotações estão sendo confeccionadas. Em breve, estarão nos túmulos", conta Santos.
As placas só irão consolidar
uma prática comum no Consolação, porém pouco difundida em
São Paulo. No ano passado, cerca
de 2.800 estudantes de artes plásticas fizeram o roteiro turístico do
cemitério com o historiador.
"Centenas de turistas vêm também, mas não há ainda um roteiro oficial", conta.
A idéia é fazer do Consolação
uma espécie de Père Lachaise
paulistano. O cemitério parisiense reúne mortos ilustres como o
escritor Marcel Proust e o vocalista da banda The Doors, Jim Morrison.
No Consolação, explica Santos,
"predomina o mármore, com o
classicismo, e o início da arte moderna". O escultor Victor Brecheret (1894-1955) é o que mais se
destaca se o interesse são obras de
arte e não mortos famosos.
Mas artistas italianos como Galileo Emendabili e Materno Giribaldi também deixaram obras de
valor no cemitério.
Já quem procura túmulos de
ilustres, o complexo de três cemitérios oferece um leque de opções
variado, percorrendo as personalidades que emprestam nomes à
maioria das ruas de São Paulo:
Armando Álvares Penteado,
Campos Sales, Washington Luís.
Há ainda os dos artistas modernistas Tarsila do Amaral e Oswald
de Andrade, ou de personalidades históricas como Domitila de
Castro e Canto Mello, a marquesa
de Santos, o que faz do passeio
uma consulta à história do país.
"Essas obras são o que faziam a
fortuna dos artistas. As mais imponentes ficam nos túmulos de
pessoas desconhecidas por nós,
que eram os mecenas dos escultores", diz Santos.
Os cemitérios mais antigos
-geralmente mais caros- têm
em comum o problema do abandono dos túmulos pelas famílias,
o que pode comprometer o projeto de museu.
Segundo a administração do
Araçá, cerca de 6.000 do total de
25 mil túmulos do cemitério estão
abandonados. Muitos, de acordo
com a administração, por famílias
que não deixaram descendentes.
O processo de desapropriação
dos túmulos no Serviço Funerário
Municipal chega a levar dez anos.
O vandalismo é outro fator negativo nesses cemitérios. No dia
da visita da reportagem ao Araçá,
duas estátuas de anjos, de um metro cada uma, haviam sido arrancadas e jogadas no chão.
"No Consolação, que é menor,
dá para tentar evitar. Aqui é mais
difícil", diz Santos. Porém, mesmo lá, foram encontradas esculturas importantes, como os santos do jazigo da família Sinischalchi, sem dedos e cabeças.
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