São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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Consolação vai virar novo museu

DA REPORTAGEM LOCAL

Os cemitérios da Consolação, do Araçá (na região central) e o Necrópole São Paulo, em Pinheiros (zona sudoeste), formam um complexo museológico que, nos próximos meses, deverá ganhar tratamento especial da prefeitura.
Segundo o artista plástico e historiador tumular do Serviço Funerário Municipal, Délio Freire dos Santos, 76, o trabalho de identificação das obras do Consolação já foi concluído.
"As placas de acrílico com as anotações estão sendo confeccionadas. Em breve, estarão nos túmulos", conta Santos.
As placas só irão consolidar uma prática comum no Consolação, porém pouco difundida em São Paulo. No ano passado, cerca de 2.800 estudantes de artes plásticas fizeram o roteiro turístico do cemitério com o historiador. "Centenas de turistas vêm também, mas não há ainda um roteiro oficial", conta.
A idéia é fazer do Consolação uma espécie de Père Lachaise paulistano. O cemitério parisiense reúne mortos ilustres como o escritor Marcel Proust e o vocalista da banda The Doors, Jim Morrison.
No Consolação, explica Santos, "predomina o mármore, com o classicismo, e o início da arte moderna". O escultor Victor Brecheret (1894-1955) é o que mais se destaca se o interesse são obras de arte e não mortos famosos.
Mas artistas italianos como Galileo Emendabili e Materno Giribaldi também deixaram obras de valor no cemitério.
Já quem procura túmulos de ilustres, o complexo de três cemitérios oferece um leque de opções variado, percorrendo as personalidades que emprestam nomes à maioria das ruas de São Paulo: Armando Álvares Penteado, Campos Sales, Washington Luís.
Há ainda os dos artistas modernistas Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade, ou de personalidades históricas como Domitila de Castro e Canto Mello, a marquesa de Santos, o que faz do passeio uma consulta à história do país.
"Essas obras são o que faziam a fortuna dos artistas. As mais imponentes ficam nos túmulos de pessoas desconhecidas por nós, que eram os mecenas dos escultores", diz Santos.
Os cemitérios mais antigos -geralmente mais caros- têm em comum o problema do abandono dos túmulos pelas famílias, o que pode comprometer o projeto de museu.
Segundo a administração do Araçá, cerca de 6.000 do total de 25 mil túmulos do cemitério estão abandonados. Muitos, de acordo com a administração, por famílias que não deixaram descendentes.
O processo de desapropriação dos túmulos no Serviço Funerário Municipal chega a levar dez anos.
O vandalismo é outro fator negativo nesses cemitérios. No dia da visita da reportagem ao Araçá, duas estátuas de anjos, de um metro cada uma, haviam sido arrancadas e jogadas no chão.
"No Consolação, que é menor, dá para tentar evitar. Aqui é mais difícil", diz Santos. Porém, mesmo lá, foram encontradas esculturas importantes, como os santos do jazigo da família Sinischalchi, sem dedos e cabeças.


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