GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A situação social em Guarulhos -segundo município mais populoso do Estado- é tão precária que os pobres "remediados" são considerados como pessoas que desfrutam de qualidade de vida "média".
A constatação é da pesquisa Mapa da Criança e do Adolescente de Guarulhos, do instituto ProCultura.
Para o instituto, uma família desfruta de qualidade de vida considerada média se mora em casa de dois quartos (que pode ser em favela), se a mulher trabalha como empregada doméstica, se o marido tem um contrato fixo de trabalho (geralmente como prestador de serviços não especializados) e se os filhos menores de 15 anos estudam.
Esse retrato, que está longe de espelhar o modo de vida da classe média brasileira, mostra em que condições vivem 62,4% das crianças e adolescentes de Guarulhos, entre zero e 17 anos.
"Esse trabalho serve de subsídio para a criação de uma política que atenda as crianças e os adolescentes", diz o historiador Expedito Leandro Silva, um dos colaboradores da pesquisa.
Ele afirma que, a partir da pesquisa, é possível saber, por exemplo, que a maioria das crianças das famílias com qualidade de vida média tem nove anos. Além disso, diz o professor, independentemente da faixa etária, as crianças dessas famílias têm poucas oportunidades de participar de atividades culturais e de lazer.
Apenas 7,4% delas têm atividades como esportes de forma orientada e curso de língua estrangeira.
A pesquisa mostra também que, se fossem feitos investimentos na qualidade da escola pública, haveria uma mudança no perfil de toda uma geração de alunos pobres: 89,4% deles gostam da escola, mas ficam limitados à sala de aula.
Como dependem só do poder público, os jovens ficam restritos à programação cultural da televisão, assistida por 94,5% do total dessa parcela da população.
Com base em informação das mães, ficou constatado que, do total das crianças com idade média de 12 anos de Guarulhos, 5,7% delas têm facilidade para comprar bebidas alcóolicas, cigarros e drogas. Nesse segmento, 66,1% fazem parte das famílias que vivem com qualidade média de vida.
A pesquisa mostra que 2,75% dos adolescentes (15.039) começam a trabalhar antes dos 14 anos, cumprindo jornada diária de 7,5 horas. A maioria (93,3%) ajuda no orçamento familiar.
Boa parte desses jovens (40%) frequenta a escola à noite, justamente quando a porta dos colégios está mais vulnerável a ação dos traficantes.

Pesquisa
O Mapa da Criança e do Adolescente de Guarulhos, feito em setembro, abrangeu um universo de 1.089 jovens. O estudo foi elaborado com base na contagem populacional de 96 feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
As informações coletadas pelo IBGE em 773 setores censitários, entre os quais 26 favelas, foram agrupadas de acordo com as seguintes variáveis: origem da família, escolaridade do chefe da família, faixa etária dos filhos (de zero a 17 anos e 11 meses) e condição de moradia.
Foram escolhidos 550 domicílios aos quais foi submetido um questionário com 217 perguntas. As respostas foram dadas pelas donas-de-casa. Guarulhos tem 972 mil habitantes.


Texto Anterior: Há 50 anos
Próximo Texto: Trabalhar como empregada doméstica é "privilégio"
Índice