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SEGURANÇA
Onda de medo provocou o fechamento de lojas, escolas e bancos em 36 bairros da cidade; 19 suspeitos foram presos
Tráfico e boatos aterrorizam o Rio
SABRINA PETRY
TALITA FIGUEIREDO
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
A seis dias da eleição, uma onda
de ameaças e boatos atribuída a
traficantes de drogas provocou o
fechamento do comércio, de escolas e de bancos em pelo menos
36 bairros de todas as regiões do
Rio -incluindo Ipanema e Botafogo, na zona sul, e o entorno de
várias favelas da zona norte, como
o complexo do Alemão.
O comércio também fechou em
bairros de Niterói, São Gonçalo,
Itaboraí, Caxias e Belford Roxo,
cidades na região metropolitana
do Estado. No final da tarde, 19
acusados de espalhar boatos haviam sido presos.
Segundo a polícia, as ameaças
ao comércio podem ter sido uma
reação do tráfico à prisão de Elias
Pereira da Silva, o Elias Maluco, líder do Comando Vermelho, há 12
dias, e ao isolamento dos principais chefes da facção no Batalhão
de Choque da PM desde que foram transferidos de Bangu 1.
Já a governadora Benedita da
Silva (PT) insinuou que o movimento pode ter resultado de uma
orquestração política para prejudicá-la na eleição de domingo.
À noite, a Polícia Federal anunciou a abertura de um inquérito
para apurar "prática de crime
contra a ordem política e social" e
a "motivação do fechamento de
estabelecimentos comerciais". A
Polícia Civil também vai investigar o caso.
As ameaças começaram no início da manhã. Segundo comerciantes, a maioria delas foi feita
por jovens em motos ou a pé, alguns encapuzados e armados. Diziam que a ordem partira de traficantes do Comando Vermelho.
Apesar do pânico, os únicos episódios de violência ocorreram foram da cidade -principalmente
em São Gonçalo e na Baixada Fluminense, onde quatro ônibus foram incendiados.
Em Copacabana, um dos bairros mais afetados pela onda de
terror, foram registradas ameaças
por bilhetes entregues por adolescentes. Em Bonsucesso (zona
norte), elas teriam vindo por chamadas telefônicas e por homens
de bicicleta. No Rocha (zona norte), as ordens teriam sido dadas
por homens num Opala preto.
No Caxambi (zona norte), um
comerciante contou que traficantes estariam anotando o endereço
de todas as lojas que abriam, para
incendiá-las depois.
Em São Gonçalo, foi distribuído
um panfleto em que o CV mandava fechar o comércio e ameaçava
os que desafiassem a ordem com
a inscrição "vai ter bala".
Como um efeito dominó, lojas,
restaurantes, bancos e até serviços
públicos como os Correios de pelo menos 36 bairros da cidade foram fechados. Funcionários foram dispensados. Em grande parte da zona norte, as ruas ficaram
desertas como em feriados.
A Polícia Militar determinou
que os batalhões das regiões afetadas colocassem todo o efetivo nas
ruas. A presença da polícia, porém, não foi suficiente para encorajar os comerciantes a reabrir.
Em Ipanema, bairro próximo
aos morros do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, comerciantes contaram ter sido ameaçados por dois
jovens em uma moto, armados
com metralhadoras.
O dono de um mercadinho no
bairro contou que, no início da
manhã, decidira fechar o estabelecimento, mesmo não tendo recebido nenhuma ordem. Mais
tarde, tentou abrir a loja, mas foi
ameaçado por um jovem.
"Ele [o jovem" disse: "Não
adianta dar uma de corajoso, porque depois vai sobrar para você e
para seus funcionários. Se você
for esperto e quiser viver, é melhor fechar". Eu fechei. O que poderia fazer?"
Em grande parte das agências
bancárias, a explicação dada aos
clientes era que, por medida de
segurança, não haveria expediente. Grandes empresas como a rede
Mc Donald's e a companhia de telefone celular Oi também dispensaram os funcionários.
Na Gávea (zona sul), PMs que
fazem a segurança particular do
bairro contaram que receberam
interceptações em seus radiotransmissores com ordens de traficantes para que todas as áreas
dominadas pelo CV tivessem os
estabelecimentos fechados.
O comandante do 19º Batalhão,
coronel Dari Cony, atribuiu o fato
ao "medo difuso". "A polícia está
nas ruas, estamos garantindo que
as pessoas não precisam deixar de
trabalhar, mas não adianta."
Ansiedade
Colégios e universidades também fecharam. A maioria das escolas não sofreu ameaças diretas,
mas suspendeu as aulas por precaução e por causa da ansiedade
dos pais. Segundo o Sindicato das
Escolas Particulares do Rio, 40%
dos alunos não foram às aulas.
O principal campus da Universidade Estácio de Sá, no Rio Comprido, dispensou 5.000 alunos depois que quatro bombas de fabricação caseira explodiram na rua
às 7h30. Outra bomba foi atirada
dentro de um ônibus que passava
pelo local. Ninguém ficou ferido,
mas o comércio fechou nos arredores do campus.
Na Tijuca, os ônibus não circularam pela rua Conde de Bonfim,
a mais movimentada do bairro,
por cerca de quatro horas. Na Penha (zona norte), dois shoppings
foram fechados.
A chefe de investigações da DRE
(Delegacia de Repressão a Entorpecentes), Marina Maggessi, atribuiu o fechamento do comércio a
uma retaliação do CV contra as
condições dos principais chefes
da facção, que estão isolados desde a rebelião de 11 de setembro.
O advogado do traficante Luiz
Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, Lydio da Hora,
negou, dizendo que o cliente está incomunicável.
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