São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

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SEGURANÇA

Para o governo do Rio, situação pode ter sido criada para prejudicar o desempenho eleitoral da governadora e de Lula

Para Benedita, há interesse político em ação

Paulo Nicolella/AJB
A governadora do Rio, Benedita da Silva, e o secretário Roberto Aguiar, em entrevista; para eles, ação de ontem pode ter sido política


FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A governadora do Rio de Janeiro, Benedita da Silva (PT), insinuou ontem que grupos políticos podem estar por trás da onda de pânico vivida ontem no Estado, associada também pelo governo a uma reação do crime organizado à política de segurança.
"Não estamos afirmando que tenha sido manobra direta de um outro grupo político. O que estamos dizendo é que não existia nenhum fato que levasse a que escolas municipais fechassem às 7h. Não aconteceu morte, assalto, absolutamente nada. Por que essa situação agora?", questionou.
Segundo Benedita, a reação do crime organizado à ação do governo é uma das explicações para os episódios de ontem.
"Não fazemos acordo com o crime", afirmou.
Benedita e o secretário de Segurança, Roberto Aguiar, disseram não acreditar que o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, tenha condições para articular "algo tão grande" como o que ocorreu ontem.
"Há, de um lado, a movimentação do crime organizado em reação à nossa ação; de outro, grupos políticos que se aproveitam do pânico, da sensação de insegurança, para, às custas da vida humana, fazer campanha eleitoral", afirmou Aguiar. "Está evidente, só se vocês forem cegos, o aproveitamento eleitoral", afirmou.
A governadora e o secretário de Segurança não quiseram avaliar o efeito dos episódios de ontem para a campanha eleitoral de Benedita e de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência da República.
Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostrou que Benedita subiu de 12% para 16% das intenções de voto na disputa pelo governo e que pode haver segundo turno nas eleições do Rio.
Há dez anos, em 1992, uma onda de arrastões nas praias do Rio acabou influenciando o resultado da eleição para prefeito da cidade. Benedita venceu o primeiro turno, mas foi derrotada no segundo por Cesar Maia.
"O que está em jogo é a democracia. Querem inviabilizar e podem inviabilizar o processo democrático", disse Benedita.
A governadora convocou uma reunião de emergência logo de manhã com secretários e assessores. A Folha apurou que, na reunião, integrantes do governo levantaram a suspeita de que a ação de ontem tenha sido essencialmente política, para prejudicar o desempenho eleitoral de Benedita e de Lula.

Medidas
O chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, disse que estão sendo investigadas todas as hipóteses para o episódio, desde uma ação do narcotráfico até uma ação de grupos eleitorais interessados em semear o pânico aproveitando-se do fato de, às vezes, o tráfico determinar o fechamento do comércio nas favelas. Nenhuma hipótese, segundo o chefe de polícia, pode ser descartada.
O governo anunciou reforço na segurança, com todo o efetivo da polícia de prontidão. Ontem, 13 mil policiais civis e militares foram chamados.
O governo também convocou reuniões com entidades industriais, comerciais, sindicatos, organizações não-governamentais e prefeitos das cidades afetadas. O prefeito do Rio, Cesar Maia, não compareceu, apesar de convidado, segundo o governo.
Para hoje estão previstas reuniões setoriais nos bairros com a polícia e o comércio. O governo estuda criar uma linha telefônica para atender com exclusividade às denúncias de lojistas e enviar policiamento rápido em caso de ameaças.
As ONGs e sindicatos divulgaram nota criticando o que classificaram como uma ação "orquestrada para provocar medo e tensão social na população fluminense às vésperas da realização da eleição no nosso país".


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