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Especialista aponta fraqueza do Estado
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
Para especialistas em segurança
pública ouvidos pela Folha, o toque de recolher generalizado no
Rio revela o "alargamento do círculo do medo" além das áreas
controladas à força pelos traficantes de drogas.
Guaracy Mingardi, pesquisar da
ONU (Organização das Nações
Unidas) sobre tráfico de drogas e
secretário de segurança em Guarulhos (Grande SP), lembra que o
fechamento do comércio começou em áreas restritas, controladas pelos criminosos.
"Eram áreas em que os criminosos podem prender ou soltar, por
exemplo", disse Mingardi. Segundo ele, foi a sucessão desse tipo de
demonstração de força, aliada à
ineficácia do Estado em reprimi-la, que fez com que esse poder de
ameaça ultrapassasse as áreas dominadas.
Na comparação com a cidade
de São Paulo, Mingardi afirmou
que esse tipo de demonstração de
força ainda é tímido, em áreas
muito restritas. "Mas em dois ou
três anos, se nada for feito, isso
pode estar em outro patamar, como ocorreu no Rio."
Segundo o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr., o toque de recolher no Rio é uma consequência da "ausência do Estado". "Aí o
crime organizado toma conta",
afirmou Reale Jr.
Boatos
O cientista político Paulo Bahia,
da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro), afirmou que o
Rio viveu ontem um fenômeno
em que os boatos acabaram criando uma realidade.
Bahia, que escreveu uma tese
sobre boatos na política e no mercado financeiro e lançará livro
neste mês sobre o assunto, disse
ter saído às ruas ontem com um
gravador para checar a veracidade de informações difundidas.
"Primeiro, diziam que a avenida
Brasil [uma das principais da cidade" estava completamente fechada. Fui até lá e vi que não era
verdade. Falaram também que todo o comércio na Ilha do Governador [zona norte" estava fechado. Vi que apenas uma parte estava fechada. Depois da circulação
dos boatos, no entanto, os comerciantes do bairro começaram a fechar", disse Bahia.
O sociólogo Ignácio Cano disse
não ter dúvidas de que houve
uma ação coordenada. "Claramente, não é um caso de fechamento por luto, como estamos
acostumados", disse Cano.
Para o antropólogo Rubem César Fernandes, diretor da ONG
Viva Rio, o fechamento das lojas
ocorreu porque a facção criminosa Comando Vermelho está se
sentindo pressionada.
"Foi uma tentativa de afirmação
de poder do crime organizado
diante do Estado. Foi também um
ato com intenção de fragilizar o
governo no momento em que há
uma campanha eleitoral", afirmou Fernandes.
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