São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRIME ORGANIZADO

Acusados negam

Cúpula da Segurança é alvo de suspeita no PR

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Uma investigação do Ministério Público do Paraná volta a apontar suposto envolvimento da cúpula da Segurança Pública do Estado com o crime organizado. O secretário da Segurança, José Tavares, e o diretor-geral da Polícia Civil, Leonyl Ribeiro, foram citados em conversas telefônicas do suposto chefe de uma quadrilha de roubo de cargas. Eles estariam interferindo em favor do criminoso. As conversas foram grampeadas por ordem judicial.
O monitoramento dos telefones foi coordenado pela PIC (Promotoria de Investigações Criminais). O órgão estava investigando o garimpeiro Mário do Amaral Fogassa. Apontado como o chefe da quadrilha, ele responde a processos por roubo de cargas no Paraná desde 1992. Tavares e Ribeiro aparecem em conversas interceptadas que Fogassa manteve com supostos quadrilheiros.
O tráfico de influência teria ocorrido com a intermediação do deputado estadual e candidato à reeleição Carlos Simões (PTB).
O secretário, o diretor-geral da Polícia Civil e o gabinete do deputado negam as acusações.
Em fevereiro de 2000, denúncias levantadas pela CPI do Narcotráfico levaram à queda da cúpula da segurança, por omissão ou suposto controle do tráfico.
A atual investigação foi tornada pública na última sexta, com a prisão do delegado-chefe da Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas, Armando Garcia, e mais 12 pessoas. Ele, uma delegada e um superintendente de polícia foram denunciados à Justiça por indícios de facilitação de liberação de cargas roubadas, mediante achaques. A propina paga teria somado R$ 50 mil. Um tenente da PM também foi preso, acusado de receptação.
O advogado do delegado Garcia, Antônio Figueiredo Basto, entra hoje com habeas corpus no Tribunal de Justiça. Para o advogado, "a prisão do delegado é uma arbitrariedade" e não há provas contra seu cliente.
Os 13 presos na sexta-feira integram uma relação de 26 pessoas denunciadas pela PIC por participação ou envolvimento no desvio das cargas. Do total, o juiz Hélio Cezar Engehardt aceitou a prisão preventiva de 21. Fogassa continua foragido.
Não há acusação formal contra a cúpula da Segurança Pública. Mas a promotora Marla de Freitas Blancet, que presidiu a investigação, cita as conversas grampeadas de telefones de Fogassa, em que ele diz a um possível cúmplice que Tavares, Ribeiro e Simões estariam cuidando do assunto. Simões também é apontado como tendo emprestado parte dos R$ 50 mil pagos de propina.
A promotora disse ontem que não denunciou o secretário, o diretor da Polícia Civil e o deputado à Justiça por falta de provas concretas. "Citei as conversas para fazer o elo de ligação, mas o caso ainda está em investigação."
Segundo Marla Blancet, Simões pode ter feito o empréstimo sem saber do uso dado. Ela não divulgou os trechos das degravações alegando segredo de Justiça.
Quanto à prisão do delegado Marques, a promotora disse que há indícios de que ele teria participado indiretamente. "Fiz o pedido de prisão para a equipe, e ele era o chefe", afirmou.


Texto Anterior: Sistema prisional: Em SP, polícia revista 31 presídios
Próximo Texto: Panorâmica - Saúde: Morre o 1.400º paciente da fila do fígado em SP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.