São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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Desastre no ar

Mortos devem chegar a 155 no maior acidente aéreo da história

Equipes de resgate só viram "corpos e mais pedaços de corpos, nada além disso", diz Infraero

Jato menor sumiu das telas do controle aéreo por pane, mudança de rota ou falha no radar

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA

É "remotíssima" a chance de haver sobreviventes entre os 149 passageiros e seis tripulantes que estavam no vôo 1907 da Gol que caiu anteontem no Mato Grosso, segundo a Aeronáutica. O Boeing 737-800 saiu de Manaus rumo ao Rio, com escala em Brasília, e caiu após um incidente não esclarecido com um jato executivo Legacy, fabricado pela Embraer.
O Legacy, com sete pessoas a bordo, entre eles dois repórteres do "The New York Times", conseguiu pousar na base aérea de Cachimbo, no sul do Pará.
A FAB (Força Aérea Brasileira) e a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) informaram que não seria possível afirmar se alguém saiu vivo porque as equipes de resgate não tiveram "acesso total" ao local.
O presidente da Infraero, o tenente-brigadeiro José Carlos Pereira, é menos cauteloso e diz que é "impossível" alguém ter sobrevivido: "As equipes da Força Aérea já percorreram toda a área do acidente sem encontrar nenhum vestígio de sobrevivência possível. Apenas corpos e mais pedaços de corpos, nada além disso".
Se confirmadas as 155 mortes, será o maior acidente aéreo da história brasileira. O desastre recordista até então ocorreu em 1982. Um avião da Vasp caiu no Ceará, com 137 mortes.
Os destroços do Boeing foram localizados ontem pela manhã na fazenda Jarinã, no norte de Mato Grosso, na fronteira com o Pará. A Infraero disse que há indícios de que o avião caiu praticamente na vertical, a mais de 400 km/h, até o seu nariz se chocar com o solo.
Por causa da mata fechada, a equipe da FAB só desceu no local às 13h30 de ontem, quase 21 horas após o horário estimado do acidente. Com a dificuldade de atravessar a mata a pé, dois militares foram lançados de pára-quedas e outros desceram de helicópteros por meio de rapel para buscar sobreviventes. Índios caiapós também ajudam na busca.
A remoção de corpos deve começar hoje. Eles devem ser encaminhados para Brasília.
A causa do acidente ainda é um mistério. Os sete ocupantes do Legacy, todos norte-americanos, permaneciam incomunicáveis, e o teor do depoimento dos dois pilotos à Aeronáutica não havia sido divulgado.
O acidente ocorreu a 37 mil pés -ou 11.200 metros. O jato Legacy deveria, em tese, estar nesta rota com destino aos Estados Unidos, e o da Gol, 300 metros abaixo -a 36 mil pés. As rotas funcionam como pistas virtuais no espaço aéreo, com "faixas" de ida e vinda com alturas diferentes.
As torres do Cindacta (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo) em Brasília não detectaram a possibilidade de choque entre os aviões porque o Legacy desapareceu dos radares. O desaparecimento do jato no radar pode ter ocorrido por três motivos:
1) Mudança de rota;
2) Pane no sistema elétrico da aeronave;
3) Falha de um dos radares da Aeronáutica. O céu estava carregado de nuvens no momento do incidente.
A Anac não confirma que houve colisão entre os dois aviões -classificou a possibilidade de "especulação".
O avião da Gol começara a operar havia 17 dias e tinha só tinha 234 horas de vôo. Foi o primeiro acidente com vítimas envolvendo o modelo 800 do Boeing-737, a versão mais moderna do avião comercial mais vendido do mundo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota lamentando as mortes e decretou três dias de luto nacional.


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