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Desastre no ar
Mortos devem chegar a 155 no maior acidente aéreo da história
Equipes de resgate só viram "corpos e mais pedaços de corpos, nada além disso", diz Infraero
Jato menor sumiu das telas do controle aéreo por pane, mudança de rota ou falha no radar
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA
É "remotíssima" a chance de
haver sobreviventes entre os
149 passageiros e seis tripulantes que estavam no vôo 1907 da
Gol que caiu anteontem no Mato Grosso, segundo a Aeronáutica. O Boeing 737-800 saiu de
Manaus rumo ao Rio, com escala em Brasília, e caiu após um
incidente não esclarecido com
um jato executivo Legacy, fabricado pela Embraer.
O Legacy, com sete pessoas a
bordo, entre eles dois repórteres do "The New York Times",
conseguiu pousar na base aérea
de Cachimbo, no sul do Pará.
A FAB (Força Aérea Brasileira) e a Anac (Agência Nacional
de Aviação Civil) informaram
que não seria possível afirmar
se alguém saiu vivo porque as
equipes de resgate não tiveram
"acesso total" ao local.
O presidente da Infraero, o
tenente-brigadeiro José Carlos
Pereira, é menos cauteloso e
diz que é "impossível" alguém
ter sobrevivido: "As equipes da
Força Aérea já percorreram toda a área do acidente sem encontrar nenhum vestígio de sobrevivência possível. Apenas
corpos e mais pedaços de corpos, nada além disso".
Se confirmadas as 155 mortes, será o maior acidente aéreo
da história brasileira. O desastre recordista até então ocorreu em 1982. Um avião da Vasp
caiu no Ceará, com 137 mortes.
Os destroços do Boeing foram localizados ontem pela
manhã na fazenda Jarinã, no
norte de Mato Grosso, na fronteira com o Pará. A Infraero
disse que há indícios de que o
avião caiu praticamente na vertical, a mais de 400 km/h, até o
seu nariz se chocar com o solo.
Por causa da mata fechada, a
equipe da FAB só desceu no local às 13h30 de ontem, quase 21
horas após o horário estimado
do acidente. Com a dificuldade
de atravessar a mata a pé, dois
militares foram lançados de pára-quedas e outros desceram
de helicópteros por meio de rapel para buscar sobreviventes.
Índios caiapós também ajudam
na busca.
A remoção de corpos deve
começar hoje. Eles devem ser
encaminhados para Brasília.
A causa do acidente ainda é
um mistério. Os sete ocupantes
do Legacy, todos norte-americanos, permaneciam incomunicáveis, e o teor do depoimento dos dois pilotos à Aeronáutica não havia sido divulgado.
O acidente ocorreu a 37 mil
pés -ou 11.200 metros. O jato
Legacy deveria, em tese, estar
nesta rota com destino aos Estados Unidos, e o da Gol, 300
metros abaixo -a 36 mil pés. As
rotas funcionam como pistas
virtuais no espaço aéreo, com
"faixas" de ida e vinda com alturas diferentes.
As torres do Cindacta (Centro Integrado de Defesa Aérea e
Controle do Tráfego Aéreo) em
Brasília não detectaram a possibilidade de choque entre os
aviões porque o Legacy desapareceu dos radares. O desaparecimento do jato no radar pode
ter ocorrido por três motivos:
1) Mudança de rota;
2) Pane no sistema elétrico
da aeronave;
3) Falha de um dos radares
da Aeronáutica. O céu estava
carregado de nuvens no momento do incidente.
A Anac não confirma que
houve colisão entre os dois
aviões -classificou a possibilidade de "especulação".
O avião da Gol começara a
operar havia 17 dias e tinha só
tinha 234 horas de vôo. Foi o
primeiro acidente com vítimas
envolvendo o modelo 800 do
Boeing-737, a versão mais moderna do avião comercial mais
vendido do mundo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota lamentando as mortes e decretou três dias de luto nacional.
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