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VÍTIMAS
No avião, João Ariano, 1, voava com mãe e babá
Pai teve de trabalhar e desistiu do vôo no dia do embarque; iria encontrá-los depois
Programador de Curitiba que estava trabalhando em Manaus comemorava fato de que seria transferido para a capital paranaense
MÁRVIO DOS ANJOS
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
João Ariano, 1 ano e 8 meses,
voava com a mãe, a médica radiologista Fabiana Granjeiro
Calandrini, e a babá, Antônia
Carla Oliveira, e pode ter sido a
vítima mais jovem do vôo 1907.
Natural de Esperança, na Paraíba, Fabiana, 35, mora em
Manaus com o marido, o radiologista paulista Denis Calandrini. De Brasília, iriam para Campina Grande, onde ela vota.
Motivos de trabalho, porém,
fizeram Denis desistir da viagem no dia do embarque. Preferiu encontrá-los na sexta para apadrinhar no sábado, junto
com a mulher, o casamento de
um dos irmãos dela.
O vôo da Gol encontrou ao
menos dois passageiros por
acaso. A pesquisadora Marilene Bovi, de Campinas, e o professor Hugo Otto Beyer, de
Porto Alegre (RS), não deveriam estar no Boeing 737-800
que caiu em MT. A razão: ambos anteciparam a volta.
Hugo, 45, professor de educação da Universidade Federal
do RS, ministrou um curso da
área em Manaus. Marilene, 58,
mãe de dois filhos, integraria
uma banca de seleção no Instituto Agronômico de Campinas.
"Ela iria voltar no vôo que
saía às 3h de sábado, em vôo de
outra companhia, acho que da
TAM, mas desmarcou", afirmou Odair, com quem Marilene é casada há 32 anos. Ele estranhou quando o telefone de
casa não tocou, às 18h de anteontem -a pesquisadora disse
que ligaria assim que desembarcasse em Brasília. "Liguei
no celular e ela não atendia. Aí
vi a notícia pela CNN e fiquei
preocupado", disse.
A preocupação virou medo, e
o medo, horas depois do acidente, virou pragmatismo: ontem, quando falou à Folha,
Odair se mostrou cético, quase
conformado. "A gente tem esperança. Mas, sendo realista,
sabe que não tem muita chance
[de Marilene estar viva]. É
muito difícil [escapar]."
Da Gol, o marido obteve poucas informações, por telefone:
"O problema é que a Gol nos
deu o mesmo nível de informação que a imprensa tinha", afirmou ele, que cogitava ir a MT.
A 1.150 km dali, a família de
Hugo Beyer, também casado,
também dois filhos, estava abalada. Uma empregada, ao telefone, afirmou apenas, a exemplo de Odair Bovi, que a Gol
não havia dado detalhes.
A queda interrompeu também os planos de Luiz Bonaroski, curitibano de 33 anos,
solteiro, que nos últimos dias
andava feliz: programador do
ABN Amro em Manaus, conseguira, após um ano, a transferência para Curitiba (PR). "Ele
vinha de vez em quando, mas
agora viria definitivamente",
afirmou o pai, Luiz Carlos Bonaroski, voz de desânimo. A
sexta era, segundo o pai, o último dia do filho, torcedor fanático do Coritiba, em Manaus.
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