UOL


São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2003

Próximo Texto | Índice

OPERAÇÃO ANACONDA

Delegado afirma que há imagens dos investigados; material apreendido inclui pelo menos US$ 590 mil e ouro

PF diz ter mais provas contra juízes federais

ANDRÉA MICHAEL
IURI DANTAS

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao anunciar ontem que entregou provas "robustas" ao Ministério Público Federal, o delegado da Polícia Federal Reinaldo de Almeida Cézar sugeriu que há mais indícios de comprometimento de juízes, além de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça.
A "robustez" do processo foi garantida, segundo o delegado, pelos meios mais modernos de investigação, o que incluiria: vigilância dos investigados, imagens, "diagramas de relacionamentos" (as pessoas com quem mantêm contato), entre outros. O delegado evitou dar detalhes porque o inquérito está sob sigilo judicial.
Entre os 1.300 quilos de documentos e equipamentos apreendidos em 15 mandados de busca em São Paulo e Maceió, anteontem, estão US$ 550.549 e dois quilos de ouro em barra, encontrados na casa de Norma Regina Emílio Cunha, ex-mulher do juiz João Carlos da Rocha Mattos, além de R$ 50.000 em ações e US$ 42.000 em outras dependências.
Também foram encontrados, em local não revelado por Cézar, 200 quilos de armas e munição e equipamentos de uma central de escuta telefônica. A perícia começou a analisar o material ontem.
Há também indicação da existência de depósitos na Suíça, provavelmente, conforme apura a PF, dos lucros auferidos pela quadrilha que trabalhava em duas linhas, mediante pagamento.
1) Poderiam atrasar ou impedir investigações no âmbito da PF.
2) Em processos judiciais em curso, ofereciam sentenças favoráveis aos acusados.
Todo o funcionamento da suposta quadrilha foi descrito em um relatório de inteligência entregue ao Ministério Público Federal, contendo 178 páginas. O material foi levantado durante um ano e nove meses de investigação da PF, originada em Alagoas.
Anteontem, uma força-tarefa com 140 policiais de diferentes Estados cumpriu a segunda etapa da Operação Anaconda, prendendo oito pessoas em São Paulo. Entre os detidos, estão dois delegados, um da ativa e outro aposentado, um agente da Polícia Federal, dois advogados, dois empresários e a ex-mulher do juiz Rocha Mattos.
Além de Rocha Mattos, que teve sua prisão pedida, o Ministério Público denunciou à Justiça os juízes federais Ali Mazloum e Casem Mazloum, irmãos que trabalham em varas criminais em São Paulo. A Justiça ainda não analisou os pedidos e só o fará após avaliação do material apreendido.
Os juízes negam a acusação e se dizem vítimas de armação. Rocha Mattos ainda fez críticas à PF.
Não há, por ora, indícios de envolvimento do narcotráfico com a organização criminosa da qual fariam parte os três juízes federais. Até agora, conforme a Folha apurou, os indícios revelam que o suposto esquema beneficiou empresas que atuariam, em São Paulo, com contrabando e mercado de precatórios (títulos públicos para pagamento de dívida).
Ontem, o presidente interino do STJ (Superior Tribunal Federal), ministro Edson Vidigal, negou liminar que livraria da prisão Norma Cunha. Para ele, a ordem de prisão não contém "ilegalidade ou resquício de abuso de poder".
Os advogados de Norma disseram que o decreto de prisão, da desembargadora federal Therezinha Cazerta, conteria erros, como a afirmação de que ela estaria na Suíça e não em São Paulo.


Próximo Texto: Para juiz, diretor da PF é "irresponsável"
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.