São Paulo, terça-feira, 01 de novembro de 2005

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URBANISMO

Arquiteto disse que vai solicitar que conselho reconsidere o veto à demolição parcial de sua obra no Ibirapuera

Niemeyer vai pedir reavaliação da marquise

DA REPORTAGEM LOCAL

O arquiteto Oscar Niemeyer disse ontem que irá pedir ao Conpresp (conselho municipal do patrimônio histórico de São Paulo) uma reavaliação do projeto em que pede a demolição de parte da marquise do Ibirapuera. O parque paulistano, projetado por Niemeyer nos anos 50, é tombado, e o órgão se manifestou contra a obra no ano passado.
A mudança, segundo o arquiteto, é necessária para a instalação de uma praça entre a Oca e o recém-inaugurado auditório. Nessa área, a marquise possui um "bico" que dividiria a futura praça em duas. O trecho a ser suprimido mede aproximadamente 40 metros de comprimento e cerca de 1.000 m2. Ao todo, a marquise possui cerca de 27 mil m2.
A polêmica em torno da demolição da marquise voltou à tona no último fim de semana, quando o prefeito José Serra (PSDB) disse ser a favor da mudança proposta por Niemeyer. O arquiteto, aliás, viajaria a São Paulo no último sábado para conversar com o prefeito sobre o assunto -o encontro foi adiado pois Niemeyer machucou um braço numa queda.
Além disso, a seção paulista do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) encaminhou ao Conpresp uma carta pedindo que o conselho analise novamente a demolição da marquise. A carta chegou ao órgão na última semana.
Para o presidente do Conpresp, José Eduardo de Assis Léfevre, a declaração do prefeito não interfere diretamente nas ações do órgão. "O conselho é um órgão técnico, que toma decisões técnicas, e não políticas." Isso não significa que o prefeito não tenha poder sobre o órgão -seis das nove vagas existentes no Conpresp são indicações feitas por secretarias municipais. "O prefeito pode querer substituir todos os membros [do conselho], mas a minha posição é contrária [à demolição da marquise] e não abro mão de minha convicção pessoal", disse.
Já o pedido do IAB gerou uma dúvida para o conselho, afirma Léfevre, pois, tradicionalmente, são os autores do projeto ou proprietários do imóvel que pedem ao conselho o desarquivamento e a reavaliação de um projeto já julgado -medida conhecida como "reconsideração de despacho".
Segundo Léfevre, a possibilidade de o IAB entrar com o pedido será discutida na próxima reunião do órgão de preservação, na terça-feira da semana que vem.
Para a conselheira Mônica Junqueira, o IAB não pode pedir a reconsideração de despacho. "O caso, em princípio, estava encerrado no Conpresp." Segundo ela, só Niemeyer poderia fazer o pedido.
Ontem, ao ser informado do impasse pela reportagem, o arquiteto disse que iria providenciar o pedido de reavaliação do projeto da marquise. "É lógico que quero que seja analisado novamente", disse Niemeyer, que considera a discussão em torno do projeto "inútil". O "bico" da marquise o incomoda tanto que o arquiteto decidiu não conhecer o novo auditório do parque, também projetado por ele, enquanto a demolição não for realizada.
"A marquise está de acordo com o projeto original do parque, que é uma obra emblemática da São Paulo dos anos 50", afirma o presidente do Conpresp, que é contra a obra.
Já Mônica Junqueira, também conselheira do órgão, é a favor da demolição. Para ela, o novo formato da marquise faz parte do projeto do auditório. "Eu era contra a construção do auditório, mas, agora que ele foi feito, tem que demolir parte da marquise."
A obra do auditório também foi antecedida por problemas relacionados ao tombamento -o Ministério Público Estadual alegava que a obra contrariava resolução do Condephaat (conselho estadual de preservação). O órgão apóia a demolição parcial da marquise. (AMARÍLIS LAGE)


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