|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Jobim não quer pobre em avião, diz Zuanazzi
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Demissionário, Milton Zuanazzi realizou ontem um ato de
despedida e desagravo da presidência da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) no qual
acusou o ministro Nelson Jobim (Defesa) de atuar com uma
"agenda oculta" para impedir
que pobres viagem de avião.
Zuanazzi fez um balanço de
sua gestão de um ano e sete meses na qual se classificou de "injustiçado" e "bode expiatório"
de Jobim. A entrevista, com café da manhã, foi acompanhada
por quase cem funcionários da
Anac. No final, foi aplaudido.
Ele afirmou ter decidido deixar o posto por "divergências
profundas" com o ministro. Citou a "falta de conhecimento de
aviação civil" e "proselitismos".
"Estou saindo porque não
gostaria de trabalhar com ele.
Tenho divergências profundas.
Ele colocou em prática um conjunto de restrições temerárias", disse. "Temo que haja
restrição de oferta e diminuição de horas de vôo, empurrando o aumento de passagens, e
que isso impeça a classe média
baixa, as pessoas mais simples e
mais pobres do Brasil, de voar."
Na carta de renúncia levada
ao presidente Lula, as críticas a
Jobim foram mais diretas: "O
que vemos são meras ações midiáticas, manifestações despreparadas, discursos sem qualquer conteúdo técnico, revelando um jogo pobre, que tanto
mal tem feito ao Brasil".
Zuanazzi pediu a Lula providências contra o "desrespeito
vil" à legalidade e à Constituição. "Fiquei silenciosamente
vendo ministro da Defesa, num
teatro com tinturas de exibicionismo, a demitir-me diariamente pela mídia", diz a carta.
"Se a decisão do governo caminha para esta retirada [de autonomia da Anac], primeiro mude-se a lei para que depois se tome as atitudes correspondentes, nunca o contrário."
Na entrevista, Zuanazzi negou a acusação de que estaria
"mancomunado" com as empresas aéreas e disse que essa
crítica faz parte de uma "agenda oculta" contra os pobres.
"É tão fácil isso do bode expiatório, falar dos "mancomunados", os "vendidos", os que fazem o jogo das empresas. Estou fazendo o jogo do usuário. Tem
uma agenda oculta que não
quer que o país cresça, que não
quer que pobre ande de avião."
Zuanazzi afirmou que irá cumprir os prazos previstos de
quarentena para trabalhos ligados à aviação civil e que deve
voltar a lecionar e atuar em planejamento de turismo.
Texto Anterior: Demitidos por irregularidade são poupados Próximo Texto: Para ministro, critica é demagógica Índice
|