São Paulo, domingo, 1 de novembro de 1998

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OUTONO DO PATRIARCA
Mudança nos papéis desestrutura modelos seculares e altera o script que norteava a vida familiar
"Fome de pai" deixa meninos perdidos

FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local

As mudanças na família brasileira -como o ingresso cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho e a consequente "confusão" dos homens em relação à sua função na criação dos filhos- estão gerando condições potencialmente destrutivas para o desenvolvimento das crianças.
Hoje, escolas reclamam da falta de limites dos estudantes; aumentam os casos de delinquência juvenil, inclusive entre os mais ricos; os consultórios de psiquiatras e psicanalistas estão recebendo meninas com problemas de agressividade e meninos com depressão e ansiedade -uma inversão do que acontecia dez, vinte anos atrás.
Pesquisa Datafolha sobre a família brasileira mostrou que o pai atualmente tem menos importância na família (66% da população considera que ele é "muito importante") do que a mãe (74%).
Em todas as classes sociais, em praticamente todos os países do mundo, a figura do pai está se tornando cada vez mais ausente.
O pesquisador do Open Society Institute Gary Baker (EUA) chega a usar a expressão "fome de pai", ao se referir a um sentimento generalizado entre jovens.
A questão é que as crianças crescem a partir de modelos, e a mãe hoje virou uma espécie de "mulher maravilha" -que trabalha, administra a casa e cuida dos filhos- e o pai, ao perder a condição de provedor exclusivo da casa, ora compensa isso trabalhando mais ora simplesmente se afastando da família. A dificuldade atual em obter e manter o emprego se torna um complicador adicional.
"Está bastante difícil para as crianças. Os pais (e mães) estão literalmente muito desorientados e as crianças, com muita falta de limites e de modelos", afirma a psicóloga Magdalena Ramos, coordenadora do Núcleo de Casal e Família da PUC de São Paulo.
"Quando chegam à adolescência, os meninos já não sabem mais o que fazer com seus sentimentos. Saem nos finais de semana, se embebedam, voltam aos pedaços. Estou recebendo cada vez mais meninas de 12, 13, 14 anos grávidas."
Especialistas da área apontam que, para os meninos, a situação está ainda mais complicada do que para as meninas, já que, enquanto as mulheres adquiriram mais poder, os homens perderam.




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