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Modelo masculino
vem de líder de rua
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
A ausência do pai dentro de casa
está levando os jovens a eleger os
líderes de grupos da rua como o
modelo masculino a ser seguido.
Estudo feito em Chicago em bairros pobres controlados por gangues mostra que os "chefões" representam a figura masculina admirada. Nas favelas do Rio, os comandos do tráfico muitas vezes
ocupam o lugar do pai ausente.
"Os jovens adotam esses modelos não porque querem ser como
os chefes, mas porque recebem
deles a proteção que não têm ou
não tiveram do pai", afirma Gary
Barker, pesquisador do Open Society Institute e um dos autores
das pesquisas do Rio e de Chicago.
A "fome do pai", como Barker
chama as queixas dos jovens com
relação à ausência do pai, não é exclusiva das classes mais pobres
nem se restringe à presença física
masculina. A socióloga Irene Loewenstein diz que o mesmo ressentimento com o pai vem sendo observado num grupo de terapeutas
de família estudado por sua equipe
na zona do sul do Rio.
O mesmo estudo qualitativo
vem sendo feito com homens das
favelas do complexo da Maré, na
zona norte do Rio. "Nos dois grupos, são raros os que reportam
uma relação positiva com o pai",
afirma Irene. "Eles sentem essa
ausência, física ou psicológica como uma violência contra eles."
A pesquisa deve durar 18 meses e
é realizada pelo Núcleo de Estudos
em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pela
Escola Nacional de Saúde Pública.
Irene, que participou com Barker de outra pesquisa com jovens
cariocas da periferia e de favelas,
diz que a figura do líder do grupo é
"positivamente vista". "Nas
áreas mais pobres, o tráfico representa uma alternativa de poder.
Na falta de outro modelo positivo,
é natural que os jovens vejam dessa forma." No estudo de Barker
em Chicago, que teve conclusões
parecidas, 75% dos 40 jovens estudados não tinham o pai em casa.
No plano psicológico, diz o trabalho dos dois, "a presença dos
comandos do tráfico e seu controle local tem um impacto profundo
nos adolescentes e na formação de
suas identidades". Para esses jovens, tornar-se sexualmente ativos
e sustentar financeiramente a si
próprios e à família eram condições básicas para ser homem.
A dificuldade de conseguir ou se
manter no emprego era relatada
por esses jovens como um forte
motivo de tensão. Muitos deles
mencionaram o exemplo de pais
que perderam o emprego, começaram a beber e agir com violência
contra a mulher e os filhos até que
abandonaram a casa.
"É uma trajetória que os jovens
entrevistados afirmam que não
querem repetir", diz Barker.
"Muitos diziam, "eu não quero
ser como meu pai'."
Os estudos mostram que os jovens criados sem uma figura masculina tendem a adotar os colegas
de rua como substitutos do pai. A
mensagem que predomina nessas
relações é sempre machista, assim
como os líderes das gangues e o
comando do tráfico reproduzem
uma imagem patriarcal, com o homem mais forte, violento e com
mais direitos sobre as mulheres.
Não se trata, no entanto, de culpabilizar os homens, afirmam os
pesquisadores. Mas a expectativa
de que seja o provedor da família,
faz com que perca o direito de ser
pai quando está desempregado.
"É como se dissessem, "se não
tem dinheiro, não tem direito de
brincar com as crianças'", afirma
Barker. "O pai não é ausente porque quer", diz Irene. "Os papéis
estão tão estabelecidos que é difícil
sair dessa ausência."
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