São Paulo, domingo, 1 de novembro de 1998

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O Garoto da Hora

O modelo Ranimiro Lotufo, 38, voltou a fazer sucesso. Estrela da campanha de verão de uma confecção, ele está em revistas e outdoors, de shorts. É como se tudo voltasse a ser como antes. A diferença é que Lotufo não tem uma perna, amputada após um acidente de paraglider, em 95. Nos anúncios, ele exibe uma prótese.
Os modelos deficientes são uma tendência na moda internacional. A atleta americana Aimeé Mullin, que também teve uma perna amputada, desfilou para o estilista Alexander McQueen e foi capa da revista inglesa "Dazed and Confused" -uma espécie de bíblia dos moderninhos.
Lotufo está satisfeito com o resultado do trabalho. "O importante é que as pessoas que estão passando pelo mesmo problema que eu vivi podem me ver como um exemplo positivo", diz.
A primeira reaparição de Lotufo nas passarelas foi no ano passado, quando o modelo desfilou no MorumbiFashion Brasil.
Ao mesmo tempo em que retornou ao mundo fashion, ele também voltou a praticar esportes radicais. Entre eles, o paraglider. Ele pratica também rafting e, junto com o atleta Marcelo Tanaka, criou a Equiperneta, que tirou quinto lugar em um campeonato do esporte.

Após o acidente, você achou que sua carreira como modelo estaria encerrada?
Nem pensei nisso. Eu estava preocupado com outras coisas. Ser modelo sempre foi minha profissão, mas nunca foi minha vida. Quando me chamaram para desfilar eu achei que foi uma ótima surpresa. Principalmente porque me chamaram como profissional, e não como deficiente.
E como foi essa volta?
Foi muito emocionante. Fui muito aplaudido pelas pessoas que já me conheciam como profissional. É claro que eu não ando mais como andava antes, mas criei um estilo. Sempre tentei me diferenciar. Acho que alguns desfiles hoje em dia são muito entediantes, com todo mundo andando com cara de nada.
O que você achou de fazer a campanha mostrando a prótese?
Achei maravilhoso. Principalmente porque eu acho que esse tipo de coisa pode ajudar as pessoas que estão passando pelo mesmo problema que eu. O maior preconceito que eu enfrentei foi o meu, mesmo. Muitos deficientes se trancam em casa, não se aceitam. O mais legal é mostrar que não é uma desgraça, que você continua vivo e aprende muito com o que passou. Se eu pudesse escolher entre a vida que eu tinha antes, com duas pernas, e a que tenho hoje, com uma perna, ficaria com a vida que levo hoje.
O que você acha dessa tendência dos deficientes no mundo da moda?
Não sei o quanto isso vai pegar. Não sei se é só um jogo de mídia ou não. Se for para mostrar uma realidade que muita gente vive, acho bom.
Você continua praticando esportes radicais?
Continuo voando e participando de campeonatos. Logo após o acidente, não sabia o que eu seria capaz de fazer. Aos pouco fui me acostumando e vendo que era capaz de fazer muita coisa. Uns amigos me chamaram para voar de paraglider e eu aceitei na hora. Não fiquei com nenhum trauma por causa do acidente. Acho que o que houve aconteceria de qualquer forma, era uma coisa pela qual eu tinha de passar. Mas continuo praticando vários esportes radicais. Montei essa equipe, a Equiperneta, e temos participado de várias aventuras.



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