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SAÚDE
Maioria dos colégios não possui nenhum preparo para receber estudantes portadores do vírus HIV; situação é mais grave nas particulares
Escola não sabe conviver com
criança com Aids
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
A maioria das escolas não está
preparada para receber crianças
com Aids nem se preocupa em ensinar seus alunos a conviver sem
preconceitos com os doentes.
Estudantes e professores se comportam como se a epidemia estivesse distante dos bancos da escola. Na verdade, nunca esteve tão
próxima: a Apta, uma ONG de São
Paulo que trabalha com prevenção
em escolas, estima que pelo menos
6.000 crianças com Aids ou HIV
estejam frequentando colégios públicos e privados.
A tendência é que o número salte
a cada ano. Com os novos medicamentos e melhor atenção médica,
as crianças que antes morriam nos
primeiros anos estão agora chegando com saúde ao ginásio.
O alerta para o "descuido" das
escolas foi feito esta semana por
especialistas de colégios públicos e
privados e por profissionais que
trabalham com Aids e prevenção.
"As escolas têm que se preparar
para uma realidade cada vez mais
próxima", diz Marinella Della
Negra, responsável pelo serviço do
Hospital Emílio Ribas que já atendeu mil crianças com Aids. Cerca
de 400 delas estão em tratamento e
cem já frequentam escolas.
Na semana passada, quatro instituições que abrigam crianças
com Aids lançaram uma gincana
que contava com a participação de
escolas particulares. De mais de 40
colégios convidados, apenas três
aceitaram, o Albert Sabin, o Itatiaia e o Marco Polo.
A gincana estabelece uma série
de tarefas envolvendo o tema
"Aids e preconceito", com pesquisa, entrevistas, peça de teatro e
até uma campanha publicitária.
"A intenção é conscientizar os
estudantes para a convivência e a
solidariedade", diz o padre Júlio
Lancellotti, da Casa Vida, instituição que abriga crianças com Aids e
que já tem 16 delas em escolas.
Entidades que trabalham com
prevenção e sexualidade dizem
que o interesse é maior entre as escolas públicas. "As raras escolas
particulares que solicitam nosso
trabalho querem apenas uma palestra", diz a diretora da Apta, Terezinha Reis Pinto.
"São pouquíssimos os colégios
que têm um trabalho continuado", diz a socióloga Rosana Gregori, da Ecos, ONG especializada
em sexualidade e que também trabalha com escolas. "Mostramos
aos alunos que a Aids está aumentando entre os jovens heterossexuais e que as crianças com o vírus
estão vivendo cada vez mais. A intenção não é assustá-los, mas desmontar o mito de que a Aids está
longe deles", afirma.
As escolas reconhecem a dificuldade em tratar o assunto. "Há
uma espécie de rejeição por parte
dos alunos, como se eles já soubessem de tudo e o tema fosse repetitivo", diz Sylvia Figueiredo
Gouvêa, diretora da Escola Lourenço Castanho, ex-membro do
Conselho Estadual de Educação e
ex-diretora pedagógica do Grupo-Associação de Escolas Particulares. Sylvia reconhece que há
também uma resistência por parte
das escolas.
Na rede pública do Estado, um
projeto para crianças de 1ª a 4ª série será iniciado no próximo ano,
complementando um programa já
em andamento nas outras séries.
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