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EDUCAÇÃO
Ministro inclui na avaliação do ensino superior um índice de qualidade para medir compromisso social de faculdades
Projeto de Cristovam mantém o provão
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O projeto de lei que o ministro
da Educação, Cristovam Buarque,
apresentará amanhã com mudanças em todo o sistema de avaliação do ensino superior criará
um novo esquema de classificação dos cursos universitários, mas
manterá o provão como um dos
critérios a serem considerados.
Em entrevista à Folha, Cristovam afirmou que a sociedade poderá continuar comparando as
notas que os cursos obtêm no
provão separadamente, mas que
o ministério privilegiará, na divulgação dos resultados, um novo indicador, que será chamado de Índice de Desenvolvimento do Ensino Superior. Os conceitos desse
índice irão variar entre bom, regular e preocupante.
"Quero mostrar que o governo
anterior teve o mérito de implantar a cultura da avaliação, que antes já existia isoladamente. Aquele
que acha que o provão basta para
avaliar o ensino pode continuar
olhando só para ele. O que estamos fazendo é um aperfeiçoamento da avaliação. Tem doente
que acha que basta tirar a temperatura para ter o diagnóstico. Antigamente, o provão tirava apenas
a temperatura do doente. Agora,
vamos apresentar o diagnóstico
completo e dar a receita", disse.
Em setembro, quando uma comissão criada pelo MEC propôs o
fim do Exame Nacional de Cursos
(ENC), o provão, houve polêmica
entre especialistas. A antropóloga
Eunice Durham, da USP e ex-secretária de Política Educacional
do MEC na gestão Fernando Henrique Cardoso, classificou a extinção como "enorme retrocesso".
No projeto de Cristovam, que
será apresentado amanhã na Câmara dos Deputados, o Índice de
Desenvolvimento do Ensino Superior será uma média de quatro
avaliações. Ainda não está definido o peso que cada avaliação terá
na montagem do conceito final,
porém os pontos a serem considerados serão a avaliação da
aprendizagem (como faz o provão), a avaliação do corpo docente, a capacidade institucional do
curso e o seu envolvimento com a
realidade (veja quadro).
No caso do provão, os cursos serão avaliados de três em três anos.
No primeiro ano, serão avaliados
todos os cursos das áreas de saúde, educação e ciências biológicas.
No ano seguinte, será a vez das
áreas de engenharia e ciências da
terra. Depois o restante das áreas
será avaliado, para que os cursos
de saúde, educação e ciências biológicas voltem a ser analisados depois de três anos.
Os cursos com avaliação preocupante assinarão um termo de
compromisso com o ministério e
com os estudantes. O governo federal apontará os itens que deverão ser melhorados a partir do resultado da avaliação e a instituição terá três anos para cumprir
essas metas. Caso não cumpra, ela
poderá ser punida com a suspensão do vestibular ou até com o fechamento do curso.
"Nada muda de um ano para o
outro. Só era possível fazer a avaliação todo ano porque eram avaliados poucos cursos inicialmente", diz o ministro, defendendo a
periodicidade de três anos.
Exame garantido
De acordo com Cristovam, não
existe possibilidade de não haver
provão no ano que vem. Se o Congresso não aprovar o projeto a
tempo, o exame será feito nos
mesmos moldes da prova atual.
Se houver tempo, os alunos já
passarão a fazer a nova prova.
Em cursos com poucos alunos,
todos os formandos farão a avaliação. Em cursos maiores, será
feito um sorteio dos estudantes
que participarão da amostra que
comporá a nota do curso. Na avaliação de Cristovam, isso deixa
claro que o objetivo do provão
não é avaliar o aluno, mas o resultado da aprendizagem.
A capacidade institucional avaliará as condições de infra-estrutura do curso e outros aspectos:
"Vamos levar em conta se a instituição possuiu um bom curso de
pós-graduação e se seus laboratórios são satisfatórios".
No caso do envolvimento dos
cursos com a realidade, o MEC levará em conta, por exemplo, se os
estudantes participam de projetos
voluntários ou de cursos de alfabetização de adultos. "Além disso,
queremos saber também se o ensino de um curso de engenharia,
por exemplo, está voltado para resolver problemas de transporte
público ou se para a construção
de astronaves", disse Cristovam.
O MEC passará também a divulgar os resultados do Índice de
Desenvolvimento do Ensino Superior de forma descentralizada,
ou seja, uma faculdade pequena
do interior do Nordeste não será
comparada com outra de grande
porte. A forma de cálculo do índice, no entanto, será a mesma, o
que, segundo Cristovam, permitirá que a sociedade, caso prefira,
possa comparar os resultados.
"A gente não vai apresentar os
resultados com base em uma classificação única. Vai ter, por exemplo, a classificação das universidades com menos de dez anos ou
das instituições de cada Estado",
afirma o ministro.
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